“Qual Será o Sinal da Sua Presença?”
Introdução
Quando se fala sobre um “sinal dos últimos dias”, as pessoas normalmente entendem esses “últimos dias” como significando um período de tempo que antecede imediatamente a vinda de Jesus Cristo para levar a cabo o julgamento divino.
A convicção é que esse período distintivo é um indicador que sinaliza a proximidade dessa vinda e a execução do julgamento que ela traz. A Bíblia, naturalmente, fala de fato sobre os “últimos dias.” Mas será que ela apóia esse conceito descrito? E existe este indicador, um meio pelo qual as pessoas possam saber antecipadamente que aquele dia está a ponto de vir sobre elas?
Ao longo das eras, as pessoas de uma geração após outra encontraram razão para identificar sua época como sendo os “últimos dias”. No final das contas suas predições e expectativas conduziram, em todos os casos, ao fracasso, com a acompanhante desilusão. É bem evidente que houve um erro crucial por trás de todas estas expectativas fracassadas e alegações errôneas.
A evidência é que essas pessoas entenderam e aplicaram as palavras de Jesus referentes a guerras, fomes, pestilências, terremotos e calamidades semelhantes, num sentido diametralmente oposto ao qual elas foram dirigidas.
No primeiro capítulo deste livro, mencionou-se que comentaristas bíblicos perspicazes não entendem os “infortúnios” mencionados por Jesus no início de seu discurso como o sinal que foi pedido pelos discípulos. Muito pelo contrário, Jesus advertiu seus seguidores contra serem enganados por estes desastres. Os capítulos seguintes apresentaram evidência que confirma completamente esta conclusão. Já que todos os séculos tiveram seu quinhão de guerras, fomes, pestilências, terremotos, e assim por diante – com frequência num grau maior do que em nossa época – apontar essas coisas como sendo o sinal da parousia de Cristo geraria muita confusão.
Um erudito católico romano, M. Brunec, observa apropriadamente:
“Estabelecer sinais deste tipo é simplesmente pouco mais que criar um estado psicológico de perpétuo delírio escatológico.”1
Antes de responder às perguntas que lhe foram feitas, Jesus na verdade principiou alistando coisas que ele sabia que poderiam confundir seus seguidores.
As primeiríssimas palavras de sua resposta indicam isto. Ele começou com a seguinte advertência:
Acautelai-vos, que ninguém vos engane. – Mateus 24:4, ARC.
De que modo eles poderiam ser enganados por alegações relacionadas com a vinda de Cristo? Ele alistou várias coisas, começando com falsos líderes, falsos Messias:
Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; a muitos enganarão. – Mateus 24:5, ARC.
A parousia ou vinda de Cristo, “com poder e grande glória” e acompanhado por “todos os anjos”, não será como a de um humano que alega ser um ungido de Deus, ganhando talvez alguns seguidores. Ao passo que não há qualquer registro de pessoas atribuindo especificamente a si mesmas o título de Cristo ou Messias (ambos os termos significando “ungido”) entre a época da morte de Jesus e a destruição de Jerusalém, houve indubitavelmente aqueles que, como Teudas e Judas, o galileu, apresentaram-se como líderes e, pelo menos implicitamente, como ungidos por Deus para a tarefa. (Atos 5:35-37; compare com Atos 21:38.) Posteriormente a história relata mais de 50 falsos messias só entre os judeus, desde Bar Kochba no segundo século até Sabbatai Zebhi no século dezessete, e numerosos falsos cristos apareceram igualmente entre os cristãos.2
Segundo o texto paralelo de Lucas capítulo vinte e um, versículo 8, além de falsos cristos, Jesus advertiu contra muitos que viriam e proclamariam que “O tempo está próximo.” Mais uma vez, isto indica que Jesus sabia que sua vinda seria algo no futuro distante, sendo precedida por muitas falsas proclamações de sua proximidade.
É claro que isto não significa que seria errado um cristão viver na expectativa da vinda de Cristo, esperando-a para breve, e conduzindo-se concordemente. Pelo contrário, os verdadeiros cristãos esperam ansiosamente pelo retorno de Cristo dos céus “aguardando, e desejando ardentemente a vinda do dia de Deus.” (Filipenses 3:20; 2 Pedro 3:12, ARC) Mas isto não é o mesmo que confiar em cálculos cronológicos ou marcações de datas ou em interpretações dos sinais dos tempos, resultando na pretensão de saber e anunciar a outros que “o tempo está próximo”. Posteriormente durante seu discurso, Jesus excluiu repetida e enfaticamente a possibilidade desse conhecimento prévio, declarando que a “hora”, o “dia”, e o “tempo” da vinda dele seriam completamente desconhecidos, até mesmo para seus próprios seguidores:
Assim, vocês também precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam. – Mateus 24:44, NVI
Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor. – Mateus 24:42, NVI
Fiquem atentos! Vigiem! Vocês não sabem quando virá esse tempo. – Marcos 13:33, NVI
Portanto, vigiem, porque vocês não sabem quando o dono da casa voltará: se à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo ou ao amanhecer. – Marcos 13:35, NVI
Na realidade, o tema central do trecho inteiro de Mateus que vai do capítulo vinte e quatro, versículo 35, até o capítulo vinte e cinco, versículo 13, é a necessidade de preparação por causa do caráter repentino e inesperado da vinda de Cristo e a impossibilidade de se saber qualquer coisa de antemão sobre a época em que isto ocorrerá.3
Mais adiante em sua resposta aos discípulos Jesus de fato mencionou um “sinal” de sua vinda. Seria este, porém, um sinal que permitiria aos cristãos vigilantes saber que “o tempo estava próximo”, oferecendo-lhes algum período de oportunidade para se preparar para essa vinda? Não, é óbvio que não.
Em sua única referência específica a um “sinal”, Jesus descreveu certos fenômenos celestiais e então disse:
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações [literalmente, “tribos”] da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. – Mateus 24:30, NVI.
Com estas palavras ele indica que este sinal será seguido tão de perto pela própria vinda que será muito tarde para iniciar qualquer preparação adicional. Esta é também a lição da parábola das dez virgens. (Mateus 25:1-13) De modo que um cristão vigilante é aquele que está sempre preparado, independentemente de quando seu Senhor possa chegar. Nenhuma das palavras de Jesus ou de seus apóstolos nos encoraja a estar vigilantes à base de especulação cronológica ou por tentar aplicar interpretações especiais aos eventos mundiais. Em vez disso é por levar a vida de um modo que sejamos encontrados aprovados por nosso Mestre na chegada dele. Pois esse dia chegará de repente, inesperadamente, como o súbito fechamento de uma armadilha. – Lucas 21:34-36; Romanos 13:12, 13; 1 Tessalonicenses 3:12, 13.
Deve-se notar também que o verdadeiro sinal descrito pelo próprio Jesus torna imediatamente claro para todos que a vinda está ocorrendo. Não haverá qualquer necessidade de que algum “entendido” nos “sinais do tempo” explique a outros o significado desse sinal. Conforme Jesus disse ao comparar esse sinal com as folhas da figueira e de outras árvores: “quando começam a brotar, sabeis por vós mesmos, ao vê-las, que já está próximo o verão.” (Lucas 21:30, ARC) Ninguém precisa que algum perito lhe informe que as folhas brotando indicam que a estação de calor está próxima.4 Similarmente, o significado do sinal que real e genuinamente antecede a vinda de Cristo será óbvio para todos, sem necessidade de explicações adicionais.
Isto nos ajuda a entender por que Jesus advertiu que surgiriam pessoas pretendendo saber – talvez com base em alguma fórmula cronológica ou por se julgarem capazes de interpretar os atuais “sinais dos tempos” – e fazendo confiantemente o empolgante anúncio de que “O tempo está próximo!” (Lucas 21:8, NVI) Apesar das advertências de Jesus, e em cumprimento da predição dele, dificilmente houve um único período na história do cristianismo que não presenciou o surgimento de grupos ou indivíduos que alegavam saber, à base de seus cálculos cronológicos ou suas interpretações dos “sinais dos tempos” que “o tempo está próximo”, com frequência predizendo até mesmo o ano exato do retorno de Cristo, o fim dos “tempos dos gentios”, o início do milênio ou outros eventos do fim dos tempos. O fracasso completo das predições de todos estes incontáveis “profetas” e movimentos proféticos ao longo dos séculos prova que o conselho que Jesus acrescentou à advertência dele era dos mais apropriados: “NÃO OS SIGAM!” (Lucas 21:8).
Todos eles provaram que são guias enganosos, e segui-los sempre terminou em desapontamento.5
O resultado definitivo destas repetitivas e infundadas predições que eles fazem é prejudicial. Com muita frequência todas elas resultam em as pessoas começarem a questionar a confiabilidade da Palavra de Deus. Ou a alegação de estar “na luz” pode causar uma falsa sensação de segurança, até mesmo de confiança presunçosa, com base na qual a pessoa pensa estar bem informada sobre o futuro. Isto pode contribuir para uma atitude exclusivista em relação aos demais, que estão “na escuridão”; pode servir como um solo fértil para o fanatismo. As pessoas que depositam confiança nessas predições infundadas podem tomar decisões insensatas na vida, decisões que afetam a saúde, o matrimônio, os filhos, o lar, a educação, o trabalho e a segurança. Com o tempo, elas talvez se recuperem, assim que sararem as cicatrizes dessas decisões imprudentes; ou talvez não – e assim se acham vivendo o resto de suas vidas arcando desnecessariamente com as consequências já irreversíveis das decisões imprudentes baseadas em falsas alegações. A advertência de Jesus – “Não os sigam” – é um sólido conselho.6
Em alguns casos, a falha em reconhecer o caráter imprevisível e repentino do momento do retorno do Mestre produz uma perspectiva que permite a alguns, incluindo pessoas religiosas, de se conduzirem de maneiras impiedosas para com outros, indicando que eles sentem certo senso de impunidade com respeito à iminência do julgamento divino.
Dessa forma, eles não são diferentes do escravo cujo mestre não veio de acordo com o cronograma que ele havia calculado. É notório nessa parábola que só o escravo mau parece ter certas ideias fixas sobre um determinado momento para o retorno de seu mestre. Falando com a sua boca a outros ele pode ter dito algo diferente, mas para si mesmo, “no seu coração”, ele achou o retorno do mestre “demorado”. Em contraste, nada se diz sobre o escravo fiel ter qualquer pretensão de saber ou tentar calcular se a chegada estava próxima ou distante – ele simplesmente continuou fazendo fielmente a vontade de seu mestre e agindo em justiça para com seus co-escravos, acreditando que seu Senhor retornaria no tempo devido. (Mateus 24:48-50; compare com 1 Pedro 4:7-10.) Ele não estava ‘dominando sobre outros’, mas ministrando suas necessidades como co-trabalhador, da mesma maneira que o apóstolo expressou sua própria atitude:
Não que tenhamos domínio sobre a sua fé, mas cooperamos com vocês para que tenham alegria, pois é pela fé que vocês permanecem firmes. – 2 Coríntios 1:24, NVI.
Aumentando o número de “características” no “sinal”
Que isso tem sido um problema para a liderança das Testemunhas de Jeová é demonstrado pelo fato de que seus escritores não se limitaram aos problemas que Jesus mencionou em sua resposta. Em vez disso, eles tentaram aumentar o número de “características” no “sinal composto” adicionando “características” de outras profecias bíblicas. Dessa forma, eles conseguiram multiplicar o número de características para “trinta e nove acontecimentos diferentes” que juntos “compõem o grande sinal.”(Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado, Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1958, página 185. Uma tabela na revista A Sentinela de 1º de março de 1993, página 5, alista “Vinte e Quatro Características do Sinal”.) Quase metade desses “acontecimentos” foram obtidos somando o número de adjetivos e substantivos usados pelo apóstolo Paulo em sua descrição do comportamento egoísta das pessoas “nos últimos dias”:
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. — 2 Timóteo 3:1-5, ACF.
Esta descrição parece ser um paralelo da predição de Jesus de que “devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará”. (Mateus 24:12) Mudar a descrição mais detalhada de Paulo sobre esse desenvolvimento para outras 19 “características” do “sinal” é, para dizer o mínimo, uma redundância!
É verdade que muitas pessoas hoje se caracterizam pelo comportamento egoísta descrito por Paulo. Mas esse tipo de pessoa sempre existiu. Como foi demonstrado no capítulo sobre o desrespeito à lei, o egoísmo cru em suas várias formas frequentemente aumenta em tempos de guerra, fome e pestilência. Na verdade, Paulo mostra que o tipo de pessoas que ele descreve já existia naquela época quando conclui sua descrição incentivando Timóteo: “Destes afasta-te.”!
Também vale a pena notar que quando Paulo escreveu, em Romanos 1:29-32, sobre a maneira como as pessoas estavam se comportando, descreveu a tais em termos quase idênticos. Paulo estava descrevendo pessoas que viviam naquela época, em seu próprio tempo, não o tipo de pessoas que só apareceriam 2.000 anos depois. De acordo com vários trechos da Bíblia, os “últimos dias” sobre os quais ele estava escrevendo já haviam começado naquela época, e foi durante esse período que as pessoas que ele descreveu apareceriam.(Veja Atos 2:16-20, Hebreus 1:1-2; 1 Pedro 1:20; 2 Pedro 3:3, 4, 9; e Carta de Judas, versículos 17-19.)
Embora a liderança das Testemunhas de Jeová geralmente enfatize que todas as “características” do “sinal” têm de aparecer juntas no mesmo período para identificar esse período como os “últimos dias”, algumas delas são explicadas como sendo ainda futuras. Assim, a declaração de Paulo de que o “dia do Senhor” viria inesperadamente, em um período de “paz e segurança”, é interpretada como se referindo a uma futura proclamação política global de paz mundial. (1 Tessalonicenses 5:3)
Em algumas de suas predições, Jesus usou linguagem figurativa ou expressões não especificadas que podem ser interpretadas de diversas maneiras. Segundo Lucas 21:11, 25, 26, ele mencionou “vistas aterrorizantes” e “grandes sinais” no céu. Essas “características” eram antes entendidas pela liderança das Testemunhas de Jeová como se referindo a aviões bombardeiros, navios de guerra, mísseis balísticos, sondas espaciais, foguetes, raios cósmicos e assim por diante. Mais recentemente, porém, essas “vistas aterrorizantes” e “grandes sinais” também foram adiados para o futuro próximo e reinterpretados como se referindo a alguns fenômenos celestiais assustadores desconhecidos. (A Sentinela de 1º de outubro de 1988, págs. 6, 7; A Sentinela de 15 de fevereiro de 1994, págs. 16-21)
Uma das “características” mais importantes do “sinal” é declarada como sendo a poluição ambiental de nossos dias, um problema que se afirma ter sido previsto em Apocalipse 11:18. Este texto diz:
Mas as nações ficaram iradas, e veio tua própria ira, e veio o tempo determinado para os mortos serem julgados e para recompensar os teus escravos, os profetas, bem como os santos e os que temem o teu nome, tanto os pequenos como os grandes, e para arruinar os que arruínam a terra. (TNM)
Mas, será que este trecho realmente se refere à destruição do meio ambiente dos nossos dias, à poluição do ar e da água, ao desmatamento, ao afinamento da camada de ozônio, e assim por diante?
Os capítulos posteriores do Apocalipse mostram que há três personagens principais no livro que são os alvos da ira de Deus, a saber, a “grande prostituta”, a “besta” e o “falso profeta”. (Capítulos 13 e 17-19) De que maneira estas três figuras estavam “arruinando a terra” (ou o “país”; a palavra grega ge pode significar tanto “país [região]” como “terra [planeta]”)? Em Apocalipse 19:2 ficamos sabendo que Deus “executou julgamento sobre a grande prostituta, que corrompeu [ou “arruinou”; o verbo grego é o mesmo usado em Apocalipse 11:18] a terra [ou ‘país’] com sua fornicação”.
O ‘arruinamento da terra [país]’, portanto, era uma ruína ou corrupção moral. Indica-se ainda que a “fornicação” da “prostituta” não deve ser entendida literalmente. Parece se referir às suas conexões políticas e religiosas impróprias com os “reis da terra”. (Apo. 17:2; 18:3; cf. também Ezequiel, capítulo 16.) E visto que o anjo intérprete explica além disso que a “besta” e a “meretriz” já existiam naquela época (Apo. 17:8, 18), no primeiro século, parece claro que o ‘arruinamento da terra [país]’ por parte delas não pode ter nada que ver com a poluição do meio ambiente físico em nossos dias.
Outros “sinais” falsos a que devemos estar atentos
Não há qualquer razão para se limitar a advertência introdutória de Jesus contra ser enganado somente a falsos cristos e falsos profetas. Em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 6, ele passou a considerar outras coisas que ele sabia que poderiam levar facilmente seus seguidores a tirar falsas conclusões. Ele disse:
Haveis de ouvir sobre guerras e rumores de guerras. Cuidado para não vos alarmardes. É preciso que aconteçam, mas ainda não é o fim [telos]. – BJE
Os discípulos tinham pedido o sinal da conclusão (grego, syntéleia) da era. Jesus disse que as “guerras e rumores de guerras” não constituiriam a indicação do fim. Na tentativa de evitar esta declaração clara, alguns alegam que o “fim” (telos) da era não é a mesma coisa que a “conclusão” (syntéleia) da era. Assim, embora concorde que telos refere-se aqui à intervenção de Cristo no julgamento final, a organização das Testemunhas de Jeová defende que syntéleia refere-se a um período mais longo, período esse que abrange no momento mais de cento e dez anos, tendo começado em 1914.
Esta distinção, entretanto, é completamente artificial. As palavras syntéleia e telos são com frequência usadas intercambiavelmente. Na LXX (Versão Septuaginta), contemporânea à época de Jesus, ambas as palavras às vezes são tradução da mesma palavra hebraica para “fim”, qets.7 Deve-se enfatizar também, que, de qualquer maneira, em sua resposta Jesus não usa syntéleia, e sim evidentemente, telos, como um sinônimo. Conforme o Dr. Brunec explica no artigo já citado (veja a nota de rodapé 1 deste capítulo), “o termo telos com o artigo neste lugar não pode ter qualquer outro significado além de he syntéleia tou aionos [‘a conclusão da era’] ou a parousia. O termo telos é na realidade um sinônimo para a palavra syntéleia”8

Os discípulos de Jesus não deveriam ficar ‘alarmados’ em ouvir falar de guerras. O ‘alarme’ aqui não se refere evidentemente a uma preocupação natural quanto aos perigos do combate militar. A palavra que se usa no relato de Mateus é a mesma palavra grega usada por Paulo quando, escrevendo aos tessalonicenses, exortou:
Não se deixem abalar nem alarmar [“não vos perturbeis”, ARC] tão facilmente, quer por profecia, quer por palavra, quer por carta supostamente vinda de nós, como se o dia do Senhor já tivesse chegado. Não deixem que ninguém os engane de modo algum. – 2 Tessalonicenses 2:2,3, NVI.
Em lugar do temor natural que a guerra causa, o alarme contra o qual Jesus advertiu é a excitação e agitação estimulante que resultam da falsa conclusão de que tal guerra constitui um “sinal” do fim.
Explicando por que as “guerras e rumores de guerras” não deveriam ser encarados como sinais do fim, Jesus prosseguiu dizendo:
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares. – Mateus 24:7, ARC.
Se for lida em conexão com o versículo anterior (o versículo 6), o sentido desta explicação só pode ser: “Uma vez que guerras, fomes, terremotos e outras dificuldades caracterizarão regularmente a história do homem no futuro (assim como foi no passado), tais coisas não deverão ser entendidas como sinais de minha vinda e do fim da era.” Conforme já se mencionou, é assim que eminentes comentaristas bíblicos normalmente entendem as palavras de Jesus:
Professor Carl F. Keil:
A resposta de Jesus começa pela segunda pergunta, referente aos sinais que poderiam ter relação com a parusia, para alertar os discípulos a não se deixarem enganar por tais eventos. (Commentar über das Evangelium des Matthäus, Leipzig, Alemanha, 1877, página 458.)
Dr. B. C. Butler:
Mateus xxiv. 5-14 dá uma antevisão direta de toda a história futura (em relação à pergunta sobre a consumação da era), advertindo os discípulos de que catástrofes seculares não devem ser tomadas como sinais do iminente fim da história. (A Originalidade de São Mateus, 1951, página 80 em inglês.)
Esta conclusão é sólida e lógica. Visto que as calamidades mencionadas por Jesus sempre fizeram parte da experiência humana, como é que elas poderiam ser um sinal de alguma coisa? Se Jesus quisesse dar a seus discípulos um sinal claro de sua vinda, por que ele apontaria para as misérias que ele sabia que tinham sido experimentadas por todas as gerações no passado e que aconteceriam a todas as gerações no futuro enquanto o mundo atual existisse? Se alguém explicasse a um amigo em qual casa ele mora numa determinada rua, será que pediria ao amigo para procurar uma casa vermelha, com cantos brancos, uma chaminé e uma varanda, sabendo que todas as casas ao longo daquela rua têm essa mesma aparência? Certamente, uma descrição assim seria completamente sem sentido.
É de grande interesse observar que este é exatamente o modo como o primeiro presidente da organização das Testemunhas de Jeová, Charles Taze Russell, entendeu Mateus 24:6-8. Em sua obra Estudos das Escrituras (Vol. 4, edição de 1916 em inglês, página 566), Russell disse:
Assim nosso Senhor fez um breve resumo da história secular e ensinou aos discípulos que não deveriam esperar sua segunda vinda e reino glorioso para muito breve. E quão apropriado foi: seguramente a história do mundo é apenas isto, um relato de guerras, intrigas, fomes, e pestilência – pouco mais que isso.
É lamentável que a liderança das Testemunhas de Jeová não tenha mantido esta explicação dada por seu primeiro presidente, mas – evidentemente sob a influência histérica da Primeira Guerra Mundial e da Gripe Espanhola – tenha abandonado essa explicação em 1920, permitindo-se ser enganada do mesmo modo contra o qual Jesus tinha advertido na introdução ao discurso dele.9
Das fontes Adventistas do Sétimo Dia, podem-se obter dois entendimentos bem diferentes. Conforme se pode ver à base das citações de seu livro Adeus, Planeta Terra, o adventista Robert Pierson apresenta as declarações de Jesus referentes à guerra, fome e terremotos como sinais destinados a indicar que a vinda dele está próxima, os quais seriam evidentes de modo tão claro hoje que os que duvidam deles são classificados entre os ridicularizadores descritos pelo apóstolo Pedro.
Em defesa de sua apresentação, ele cita Ellen G. White (cuja posição entre os Adventistas é comparável à de Charles Taze Russell entre os seguidores da Torre de Vigia), falando dela como “Uma escritora que milhares consideram como inspirada.” Ele a cita em parte, como escrevendo:
Estamos vivendo no tempo do fim. Os sinais dos tempos em rápido cumprimento declaram que a vinda de Cristo está bem próxima… As calamidades em terra e mar, a condição insegura da sociedade, os alarmes de guerra, são portentosos.
Eles preveem a aproximação de eventos da maior magnitude…
A situação das coisas no mundo mostra que tempos aflitivos vêm em nossa direção. Os jornais diários estão repletos de indicações de um conflito terrível no futuro próximo. Roubos volumosos são de ocorrência frequente. Greves são comuns. Roubos e assassinatos são cometidos em toda parte.10
Em forte contraste com o ponto de vista apresentado em Adeus, Planeta Terra, o eminente escritor adventista C. Mervyn Maxwell cita as palavras de Jesus em Mateus capítulo vinte e quatro, versículos 6 a 8, e afirma que neste texto Cristo estava advertindo seus discípulos a não se deixarem “enganar por qualquer confusão de sinais falsos.” Debaixo do subtítulo “Sinais que não são sinais”, ele escreve:
O ponto apresentado por Cristo foi que os desastres e frustrações e guerras e fomes não são ‘sinais’ da aproximação do fim, seja de Jerusalém ou do mundo. Para o nosso planeta repleto de pecado, é triste dizê-lo, tais dores são algo comum.11
Considerando-se que Maxwell escreveu estas palavras em 1985, elas podem representar uma posição mais atual entre os adventistas do que a de Pierson, que escreveu em 1976. Caso contrário os adventistas estão diante de duas posições diametralmente opostas.
Pode haver uma razão especial pela qual Jesus advertiu seus seguidores contra encarar as guerras, fomes, terremotos, pestilências, e assim por diante, como sinais da iminência da parousia dele. Em escritos apocalípticos judaicos daquela época, coisas idênticas a estas foram mencionadas frequentemente como portentos do advento do Messias e como indicação de que o fim daquela era estava próximo.12 Eles diziam que antes do aparecimento glorioso do Messias que conduziria Israel à libertação, haveria grandes calamidades que eles chamavam de “aflições do Messias.”
Os trechos que seguem, do chamado “Apocalipse Siríaco de Baruque” ilustram estas ideias apocalípticas judaicas. Acredita-se que ele é uma compilação de escritos editados e reunidos pelos judeus ortodoxos na última metade do primeiro século e seu conteúdo “fornece registros das doutrinas e convicções judaicas daquele período.”
Considere as predições deles sobre tribulações que constituiriam um “sinal” da vinda do reino do Messias na terra:
Serás preservado até aquela época, até que venha o sinal que o Altíssimo dará aos habitantes da terra no fim dos dias. Este será então o sinal. Quando um estupor acometer os habitantes da terra, e eles entrarem em muitas tribulações, e quando novamente entrarem em grandes tormentos.
Na primeira parte haverá o início das convulsões. E na segunda parte (haverá) assassínios de grandes. E na terceira parte a queda de muitos pela morte. E na quarta parte o envio da espada. E na quinta a fome e a retenção de chuva. E na sexta parte terremotos e terrores…
E Ele passou a responder e a dizer a mim: ‘O que acontecer então (acontecerá) à terra inteira; de modo que todos os viventes (o) sentirão. Pois naquele tempo eu protegerei apenas os que se encontrarem nesta terra [a Palestina] naqueles mesmíssimos dias. E quando passar a se concluir tudo o que era para vir naquelas partes, o Messias começara então a ser revelado.13
Os discípulos podem ter tido tais pontos de vista tradicionais e pensado em tais calamidades preditas quando indagaram sobre um “sinal”. Obviamente, Jesus não compartilhava das ideias destes escritores judaicos apocalípticos. Em vez de serem sinais do fim ou terminação da era, ele explicou que tais aflições seriam apenas um princípio dos problemas que haveriam de vir:
Mas todas essas coisas são o princípio das dores. – Mateus 24:8, ARC.
As “dores” (grego, odínes) foram às vezes entendidas como outra referência à opinião de rabinos judaicos contemporâneos e de escritores apocalípticos que às vezes podem ter falado das aflições que, segundo pensavam, precederiam a vinda do Messias como “as dores de aflição do Messias”, depois das quais a nova Era Messiânica nasceria. Todavia, a palavra grega odin não se refere exclusivamente às dores de parto. Ela era frequentemente usada em sentido figurativo de “qualquer agonia, angústia” (Liddell & Scott), sem ter qualquer significado de nascimento. Assim, Atos capítulo dois, versículo 24 fala da “agonia (odines) da morte” pela qual Cristo passou.14
O uso da forma plural que Jesus fez (“dores de nascimento”) mostra que ele sabia que o período até a vinda dele e o fim da era seria repleto de muitas dificuldades dentre as quais as mencionadas – guerras, fomes, pestilências e terremotos – eram apenas um princípio.15 Por declarar isto ele indicou que o futuro reservava muitos outros males, até piores. Assim o Dr. Brunec conclui:
Consequentemente, as guerras e revoluções, as pestilências, fomes e terremotos não são apresentados como sinais do fim ou da parusia, e sim como um pequeno início e a parte mínima de uma longa série de desgraças específicas.16
Confirmando este entendimento, Jesus prosseguiu descrevendo males adicionais que viriam e teriam efeito direto e exclusivo sobre seus próprios discípulos.
Tribulações sobre os discípulos
Tendo fornecido uma visão geral de calamidades que não deveriam ser entendidas como sinais do fim da era, mas que haveriam de marcar toda a história futura do mundo em geral, Jesus passou às dificuldades que seus próprios seguidores particularmente teriam de encontrar e enfrentar no futuro:
Nesse tempo, vos entregarão á tribulação e vos matarão, e sereis odiados de todos os povos por causa do meu nome. E então muitos ficarão escandalizados e se entregarão mutuamente e se odiarão uns aos outros. E surgirão falsos profetas em grande número e enganarão a muitos. E pelo crescimento da iniquidade, o amor de muitos esfriará. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo. – Mateus 24:9-13. BJE.
A palavra “tribulação” neste trecho traduz a palavra grega thlipsis. Esta é a mesma palavra usada para o termo “grande tribulação” no versículo 21, onde se fala da aflição que houve para a nação judaica em 66-70 D.C. O termo grego tem o sentido de “angústia”, “dificuldade”, e até mesmo “perseguição”, e é frequentemente usado dentro do Novo Testamento para denotar os sofrimentos suportados pelos cristãos. Por exemplo, o apóstolo João fala de si mesmo como “companheiro na tribulação [thlipsis], na realeza e na perseverança em Jesus” (Revelação 1:9, BJE) O apóstolo Paulo, em 2 Tessalonicenses capítulo um, versículos 4 a 10, mostra que os cristãos teriam de suportar tais tribulações ou sofrimentos até a própria revelação de seu Senhor Jesus. Então Deus ‘pagará com tribulação [thlípsis] aos que vos oprimem, e. . . dará o repouso juntamente conosco para quando se revelar o Senhor Jesus, vindo do céu, com os anjos do seu poder, no meio de uma chama ardente.’ (BJE) Assim a palavra thlipsis poderia ser aplicada 1) à “grande tribulação” que veio sobre a nação judaica nos anos 66-70 D.C., 2) aos sofrimentos e perseguições que os seguidores de Cristo têm de suportar neste mundo até a vinda de Cristo, e 3) à destruição que a vinda de Cristo traz sobre os inimigos do povo de Deus. – Tessalonicenses 1:7-9.17
Os seguidores de Cristo seriam odiados, disse Jesus, não só por “todas as nações”, mas também por alguns que alegariam ser seus próprios concrentes. Isto veio a ser especialmente verdadeiro em séculos posteriores, depois que a Igreja foi organizada num sistema hierárquico governado por um corpo religioso central que apelou para uma autoridade divinamente designada. Em séculos posteriores os cristãos dissidentes, tais como os Valdenses e os Wiclifitas, foram perseguidos como apóstatas, difamados, excomungados ou banidos e até mesmo mortos pelos próprios cristãos que alegavam ser seus irmãos. Por quê? Porque acreditavam que “a Bíblia é a única fonte de verdade religiosa” e que, dessa forma, “ministérios eclesiásticos, ou hierarquias, haviam de ser testados em confronto com a Bíblia como sendo a palavra de Deus.”18 Embora a Igreja Católica Romana tenha mudado há muito sua política em relação a tais dissidentes, apareceram muitas outras organizações religiosas seguindo de perto o mesmo padrão na maneira de lidar com dissidentes dentro de suas próprias fileiras.
“As Boas Novas devem primeiro ser proclamadas a todas as nações”
Além de ódio e perseguição deste tipo, Jesus mencionou falsos profetas, ensinos enganosos, e crescente iniquidade e falta de amor como outras evidências da decadência espiritual que ele previu entre o crescente número de seus professos seguidores no futuro. Ainda assim, nenhuma destas coisas deveria ser entendida como sinal da iminência da parousia dele e do fim da era. Primeiro, outra obra de alcance mundial teria de ser realizada:
E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim. – Mateus 24:14, ARC.
De fato, no tempo dos apóstolos já se podia dizer que o evangelho ou as boas novas haviam dado fruto “em todo o mundo” e tinham sido pregadas “em toda a criação debaixo do céu.” (Colossenses 1:6, 23) Porém, isto foi dito sem dúvida de modo geral, uma vez que o evangelho naquele momento (por volta de 60 D.C.) tinha sido levado a muitas partes diferentes do mundo romano, e sem dúvida também a alguns lugares fora das fronteiras romanas. Ao longo dos séculos as boas novas foram levadas a muitas outras partes do mundo e alcançaram centenas de milhões de pessoas. Segundo a Enciclopédia Cristã Mundial, publicada em 1982, o número de professos cristãos na época estava perto de 1,5 bilhão, equivalendo a 32,8 por cento da população do mundo e o aumento era de aproximadamente 25 milhões por ano.* (É claro que este aumento se deve em parte aos nascimentos entre cristãos.) Embora estes números sejam impressionantes, a Cristandade é também em grande parte caracterizada pela decadência espiritual predita por Jesus: ódio, com a resultante injustiça e derramamento de sangue, falsos ensinos, iniquidade e falta de amor.
Isto é também indicado pelo fato de que, segundo a Enciclopédia citada, o número de seitas e denominações dentro da Cristandade chegava na época a 20.800!19
De modo que o grande número de professos cristãos hoje no mundo, não nos permite necessariamente afirmar de modo conclusivo que as boas novas foram agora pregadas “no mundo inteiro” e que um testemunho completo foi dado agora a “todas as nações”, de forma que devamos anunciar que “o fim deverá vir” a qualquer momento. Ninguém pode dizer até que ponto a proclamação das boas novas está destinada a ser feita. Tudo que sabemos é que a extensão do tempo mostra que ainda há trabalho a ser feito, do ponto de vista de Deus, e que este tempo entendido nos oferece oportunidades adicionais de compartilharmos nossa esperança cristã com outros. – 2 Pedro 3:9.
A destruição de Jerusalém
Ao alistar as calamidades e dificuldades que marcariam a história futura do mundo e da igreja, Jesus tornou claro que essas coisas não deveriam ser mal interpretadas como sendo sinais visíveis do fim. Tendo primeiro mostrado os conceitos enganosos contra os quais nos resguardarmos, Jesus passou então a responder às perguntas dos discípulos.
Eles tinham pedido duas coisas: 1) o momento e (segundo as versões de Marcos e Lucas) o sinal da destruição do templo em Jerusalém, e 2) o sinal da parousia de Jesus e do fim da era.
Jesus então começou a responder à primeira destas duas perguntas, descrevendo eventos que conduziriam à destruição de Jerusalém e de seu templo, acrescentando, ao mesmo tempo, instruções apropriadas e advertências a serem observadas pelos seguidores dele durante aquele período. Para nossa consideração, não há necessidade de fazer um exame detalhado deste trecho sobre a destruição de Jerusalém que se encontra nos versículos 15-22.
Tudo se cumpriu ao pé da letra no primeiro século, sendo realmente As Guerras Judaicas, de Josefo, o melhor comentário em confirmação da predição de Jesus. Não há, então, qualquer razão válida para presumir um cumprimento duplo desta profecia, como alguns têm feito, um no primeiro século e outro no fim da era. Esta teoria não tem qualquer apoio no contexto da profecia, além de não ser necessária sob qualquer outra circunstância. Alguns comentários sobre certos trechos bastarão para nosso atual objetivo.
Jerusalém, a capital da Judéia, era “a cidade do grande rei.” (Mateus 5:35) A convicção judaica comum era que o Messias, ao começar seu reinado, faria isso em Jerusalém, na Judéia. Eles anteviam que o advento do Messias traria uma libertação literal e física da cidade. (Compare com Lucas 2:38.) Uma vez que Jerusalém na realidade enfrentou a destruição, esta era outra deturpação perigosa contra a qual Jesus advertiu seus discípulos. Para mostrar o que seria a evidência da destruição iminente do templo, Jesus fez referência ao profeta Daniel:
Assim, quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’, do qual falou o profeta Daniel, no Lugar Santo — quem lê, entenda — então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes. – Mateus 24:15, 16, NVI.20
Lucas, que frequentemente parafraseava para explicar aos seus leitores gentios os termos judaicos e as alusões ao Velho Testamento feitas por Jesus e relatadas pelos outros sinóticos, mostra claramente o que seria este “sacrilégio terrível” (“coisa repugnante que causa desolação”, TNM) dizendo:
Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade, saiam; e os que estiverem nos campos não entrem nela. – Lucas 21:20, 21, ARC.
Em maio de 66 D.C. irromperam rebeliões judaicas em Cesaréia e em Jerusalém. Isto levou os exércitos romanos sob Céstio Galo a sitiarem Jerusalém em novembro daquele ano. Quando, de repente, Galo se retirou, os cristãos em Jerusalém e na Judéia viram uma oportunidade para ‘fugir para os montes’, o que eles evidentemente fizeram.21 Esta súbita e inesperada retirada das tropas romanas de Jerusalém e da Judéia poderia ser vista como o cumprimento da predição de Jesus, a qual diz que “se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados”. Esta “abreviação” deu a estes uma oportunidade de fugir e assim salvar suas vidas. (Mateus 24:22, NVI)
Por terem fugido, eles escaparam da “grande tribulação na terra”, que começou quando as forças romanas sob o general Vespasiano retornaram alguns meses depois para subjugar os judeus rebeldes. (Lucas 21:23) Da primavera ao outono de 67, a Galiléia foi conquistada, e na primavera de 68 foram subjugadas a Peréia e a Judéia Ocidental. No ano 69, tendo sido Vespasiano proclamado imperador por suas tropas, confiou o comando ao seu filho Tito. Em abril de 70, Tito sitiou Jerusalém e em setembro os romanos ocuparam a cidade e a destruíram juntamente com seu templo. Segundo Josefo, que foi testemunha ocular da destruição e que uns cinco anos depois publicou sua descrição detalhada, 1.100.000 judeus foram mortos nesta catástrofe, enquanto aproximadamente 97.000 sobreviveram a ela. (Pode-se afirmar, porém, que a maioria dos estudiosos considera estes números altamente exagerados.) Em harmonia com a declaração de Jesus de que esta tribulação dos judeus seria pior do que qualquer outra “desde o princípio do mundo até agora”, Josefo diz que “nunca alguma cidade havia sofrido desgraças assim, nem havia qualquer era produzido uma geração mais pródiga em iniquidade do que esta, desde o princípio do mundo.” – Mateus 24:2122
Os que se esforçam a fazer uma aplicação dupla desta profecia frequentemente deram asas às especulações mais fantasiosas, com o fim de apontar para um chamado “cumprimento maior” nos eventos atuais. Assim alguns acreditam que o templo de Herodes será logo restabelecido em Jerusalém e que um ídolo ou uma imagem do Anticristo será colocado nele para cumprir a predição sobre a “abominação da desolação”.23
A liderança das Testemunhas de Jeová identifica a “abominação da desolação” com a ONU que, segundo eles predizem, devastará a Cristandade, a qual se alega ser a equivalente da Jerusalém da antiguidade. Todas estas aplicações são completamente não comprovadas e não têm qualquer apoio no próprio texto. O relato de Lucas mostra que esta “abominação da desolação” refere-se aos exércitos que cercariam Jerusalém para destruí-la, e Josefo, que provavelmente desconhecia por completo a profecia de Jesus, mostra como todos os detalhes da predição se mostraram verdadeiros nos anos 66-70 DC.
De modo que a ideia de um cumprimento adicional em nossos dias, não só é alheio ao contexto bíblico; como também mostra ser completamente dispensável à luz do cumprimento completo e detalhado no primeiro século.
A visibilidade da parousia
Os proponentes da que pode ser chamada de “vinda em duas fases” – primeiro uma vinda invisível e presença seguida depois por uma revelação com efeitos visíveis – esforçam-se em encontrar apoio para sua convicção no trecho que se encontra no relato de Mateus sobre a pergunta dos discípulos, a saber, o termo grego parousia. Eles se fixam no fato aceito de que o significado primário deste termo é “presença.” Todavia, é um fato igualmente estabelecido que nos tempos bíblicos este termo tornou-se o equivalente de “vinda” ou “chegada”, particularmente com relação a uma visita real ou imperial, visita essa que era frequentemente acompanhada por atos de julgamento. Uma simples comparação dos relatos associados à vinda de Cristo demonstrará que o termo parousia é usado praticamente de maneira intercambiável com as palavras gregas para “revelação” (apokalypsis), “manifestação” (epiphaneia), e “vinda” (eleusis). (Compare Mateus 24:39 [parousia] com Lucas 17:30 [apokalypsis]; 1 Tessalonicenses 4:15, 16, e 2 Tessalonicenses 2:1 [parousia] com 2 Timóteo 4:8 [epiphaneia]; Mateus 24:3 [parousia] com Lucas 21:7 [eleusis, no Códice Bezae Cantabrigensis (D)].) Todos estes termos relacionam-se com facetas do mesmo evento, a visita real de um governante, o rei Cristo Jesus. Para uma consideração completa deste assunto, o leitor pode examinar a matéria detalhada que se apresenta no Apêndice B deste livro. Conforme a evidência mostra, a teoria das “duas fases” acerca da vinda de Cristo foi originalmente desenvolvida por um banqueiro inglês na década de 1820. Mais tarde naquele século, muitos milenaristas adotaram esta ideia, sendo que alguns dos quais, incluindo o Pastor Russell e seus associados, usaram-na como uma maneira conveniente de salvar predições fracassadas, baseadas em conjectura cronológica, tentando assim explicar o fracasso.
O que, então, a Bíblia revela sobre a visibilidade ou invisibilidade da prometida parousia de Jesus?
Em épocas de grandes crises, sempre aumenta o interesse pela segunda vinda de Cristo e o fim do mundo. A grande crise judaica de 66-74 não seria logicamente uma exceção. Evidentemente devido a isto, depois de sua predição sobre a catástrofe judaica, Jesus achou apropriado repetir sua advertência anterior contra ser enganado por falsos cristos e falsos profetas:
Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo aí! não acrediteis; porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.
Eis que de antemão vo-lo tenho dito. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto; não saiais; ou: Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do filho do homem. – Mateus 24:23-27, ARC.
A palavra “pois” (grego, tote) no versículo 23 conecta a advertência que Jesus passou a dar com a consideração precedente dele sobre a “grande tribulação” sobre Jerusalém. Josefo, ao descrever a queima do templo pelos romanos, diz que “houve na época um grande número de falsos profetas subornados pelos tiranos para que impusessem ao povo, que denunciou isso, a ideia de que deveriam aguardar a libertação divina” e que “o povo miserável (foi) persuadido por estes enganadores.” (As Guerras Judaicas, VI,v,2,3) Quaisquer que possam ter sido as circunstâncias, os discípulos de Jesus não seriam enganados por qualquer predição do aparecimento do Messias nessa época; eles não seriam induzidos a ir para Jerusalém ou até mesmo para a Judéia, e se já estivessem lá, eles deveriam partir, fugindo para os montes. A advertência contra tais falsos profetas e falsos Messias aplicar-se-ia muito bem a todos os tempos futuros.
Os falsos profetas que surgissem ‘fariam grandes sinais e prodígios’. Isto pode, é claro, referir-se à realização de milagres de qualquer tipo. Mas é mais provável que se refira a profetizar falsamente. A palavra grega traduzida por “farão” significa realmente “darão” e não significa necessariamente realizar alguma coisa. Conforme enfatizado pelo comentarista bíblico Henry Barclay Swete e por outros, as palavras se baseiam em Deuteronômio capítulo treze, versículos 1 a 3, onde dar sinais e maravilhas refere-se a dar predições, não executar milagres.24 De modo que os “falsos profetas” incluem todos aqueles que através dos séculos se dedicaram a profetizar falsamente com respeito à segunda vinda de Cristo, como por prestar atenção imprópria ao “elemento de tempo”, estabelecendo datas para a vinda e eventos relacionados, e alegando habilidade para interpretar autoritativamente o que eles chamam de “sinais dos tempos.”
Há outra lição para nós a ser aprendida do trecho, uma lição que tem que ver com a maneira da vinda Cristo. Um ser humano que alega falsamente ser o Cristo não seria facilmente reconhecido ou aceito como tal. Seus seguidores teriam de dizer a outros onde ele está e quem é, dizendo, com efeito: “Eis aqui está o Cristo!”, ou “Ali está ele.” “Eis que ele está no deserto!” ou, “eis que ele está nos aposentos interiores!”
Mas Jesus advertiu contra pessoas que pretendiam promover isso: “Não os acrediteis.”
A vinda dele não será assim. Quando ele vier, a identidade ou a localização dele não constituirão qualquer problema. Pelo contrário, sua parousia será imediatamente evidente para todos. Para enfatizar isto, Jesus comparou a vinda dele ao relâmpago que “sai das regiões orientais e brilha sobre as regiões ocidentais.” Um clarão de relâmpago que ilumina os céus é visto imediatamente por todos, do horizonte oriental ao horizonte ocidental. Não é necessário que alguém conte a outros onde ou o que é, e ninguém precisa “se apressar em segui-los”. (Lucas 17:23, NVI) Similarmente, a parousia de Cristo será imediata e diretamente manifesta a todo indivíduo na terra. É claro que isto exclui também todas as ideias sobre uma vinda secreta e despercebida, e todas as explicações no sentido de que certa “cronologia bíblica” e/ou certos “sinais” mostram que ele veio e está “invisivelmente presente” desde certo ano. Essa concepção da parousia é completamente oposta à descrição que o próprio Jesus forneceu a respeito dela, apresentando-a como um evento muito marcante.25
Para enfatizar adicionalmente aos seus discípulos que sua vinda não se limitaria a qualquer lugar geográfico específico na terra, Jesus acrescentou as seguintes palavras proverbiais:
Onde estiver o cadáver, ali se ajuntarão as águias. – Mateus 24:28, TNM.
Com base no fato de que os romanos carregavam águias em seus estandartes, muitos expositores concluem que com esta declaração Jesus fez alusão à sua consideração anterior sobre a destruição de Jerusalém. O pensamento, então, seria que a nação judaica, tendo se tornado como um cadáver pronto para julgamento, atraiu para si as “águias de rapina” de Roma. Porém, trazer abruptamente tal ideia à discussão sobre a maneira da parousia não só parece completamente alheio à linha de raciocínio; como também o texto paralelo de Lucas capítulo dezessete, versículos 34 a 37, mostra que essa ideia é errônea. Segundo o relato de Lucas, a declaração de Jesus sobre as águias e a carcaça foi precedida por uma descrição do julgamento que ocorreria na parousia: “Naquela noite, dois [homens] estarão numa só cama; um será levado junto, mas o outro será abandonado. Haverá duas [mulheres] moendo no mesmo moinho; uma será levada junto, mas a outra será abandonada.” Isto fez os discípulos perguntarem: “Onde, Senhor?” Jesus respondeu: “Onde estiver o corpo, ali se ajuntarão também as águias.”
De modo que o que realmente causou a declaração proverbial sobre as águias e o cadáver, foi a pergunta dos discípulos sobre onde o julgamento, a separação dos justos e dos injustos, iria ocorrer. Segundo o conceito comum dos judeus contemporâneos, quando o Messias viesse, ocuparia seu assento em Jerusalém, alguns dizendo até mesmo que seria no pináculo do templo, e que de lá ele exerceria suas funções de juiz.26 Todavia, se, conforme Jesus já havia explicado, aquele templo seria destruído, então o julgamento não poderia ocorrer a partir daquele local. Isto pode ter estado na mente dos discípulos quando eles perguntaram, “Onde, Senhor?” De qualquer modo, por meio de sua declaração proverbial Jesus enfatizou claramente que o julgamento não ocorreria em qualquer lugar geográfico específico, mas que “onde quer que” os pecadores estivessem na terra no momento de sua vinda, eles seriam encontrados pelas forças vingadoras dele, assim como as águias voariam até um corpo onde quer que ele estivesse. Por dizer isto, Jesus novamente repudiou a ideia de que sua vinda ocorreria num lugar específico na terra, por exemplo, um deserto, ou Jerusalém, ou, como alguns creem ainda hoje, no Monte de Oliveiras. Em contraste com essas ideias Jesus descreve sua parousia como uma manifestação do poder e da glória de Deus, que será imediatamente vista e sentida por todos, em todas as partes da terra.
Tendo respondido à pergunta sobre o sinal da destruição do templo, sua consideração relacionada acerca da maneira de sua vinda forma uma transição natural para a próxima pergunta de seus discípulos, na qual eles indagaram sobre qual seria o sinal da vinda dele e do fim da era.
“O sinal do Filho do homem”
Em termos que fazem eco a textos do Velho Testamento, que tratam de julgamentos divinos no passado, Jesus apresenta sua vinda futura como sendo acompanhada por atemorizantes turbulências cósmicas:
Imediatamente após a tribulação daqueles dias o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. – Mateus 24:29,30, NVI.
O primeiro problema que nos confronta neste texto é a palavra “imediatamente” (grego, eutheos). Se “a tribulação daqueles dias” refere-se à “grande tribulação” do versículo 21, então pareceria à primeira vista que Jesus (pelo menos segundo a versão de Mateus, já que tanto Marcos como Lucas omitem o advérbio eutheos) situou sua parousia imediatamente após a destruição de Jerusalém em 70 DC. Neste caso, seríamos obrigados a concluir que ele estava errado ou que sua parousia ocorreu em 70 DC. Neste último caso teríamos de presumir uma vinda invisível e essencialmente imperceptível, similar àquela que a liderança das Testemunhas de Jeová alega que ocorreu em 1914.27
Que a destruição de Jerusalém em 70 DC. foi uma “visitação” de Deus é certamente verdade. Na parábola da festa de casamento, Cristo descreveu o desinteresse mostrado pelas pessoas a quem o rei na parábola tinha convidado e seu abuso e até assassinato de alguns dos mensageiros que o rei lhes enviou. Como resultado, ele declara que “o rei ficou irado e, enviando o seu exército, destruiu aqueles assassinos e queimou a cidade deles.” Depois disso ele mandou seus servos saírem “às esquinas” para convidar outros à recepção de casamento de seu filho. (Mateus 22:1-10) Já que o rei aqui representa Deus, o Pai de Jesus Cristo, o que ocorreu em Jerusalém pode, em alguns aspectos, ser chamada de uma visitação real por Deus, sendo, nesse sentido, uma parousia. Mas, mesmo que o ocorrido em Jerusalém em 70 D.C. devesse ser considerado como uma parousia, há numerosos problemas em ver tais ocorrências como A parousia, a prometida vinda de Jesus Cristo, mencionada em Mateus capítulo vinte e quatro e textos paralelos.
É difícil harmonizar essa conclusão com vários pontos no discurso precedente de Jesus. Uma das dificuldades principais é que se a parousia tivesse realmente ocorrido em 70 DC., a primeira ressurreição e a mudança dos cristãos vivos para se unirem com Cristo também deveria ter ocorrido naquele momento. (l Tessalonicenses 4:15-17; 1 Coríntios 15:50-52)
O súbito desaparecimento de milhares de cristãos das centenas de congregações espalhadas por todas as partes do Império Romano teria certamente deixado alguns rastros nos escritos cristãos extra bíblicos preservados dos dois ou três primeiros séculos da Era Cristã. Porém, não há absolutamente qualquer evidência deste tipo. Pelo contrário, descobrimos que depois de 70 DC., até mesmo nos escritos cristãos próximos da época do evento, tais como as cartas de Clemente e Barnabás e os escritos de Justino o Mártir, a vinda de Cristo e a ressurreição são ainda vistas como algo a ocorrer no futuro.
Acredita-se geralmente que a escrita do livro de Revelação de João, bem como de suas três epístolas, foi terminada perto do fim do primeiro século, no final do reinado de Domiciano.
Quanto à morte de João, acredita-se que ela ocorreu na virada do século, no reinado do sucessor de Domiciano, ou seja, Trajano. Parece difícil acreditar que, se a parousia de Cristo tivesse ocorrido depois dos eventos de 70 DC., João não fizesse pelo menos uma referência a ela em seus escritos. Naturalmente, se a parousia tivesse ocorrido naquele momento (70 DC.) teríamos de presumir que João teria encerrado sua vida terrestre, para compartilhar a vida celestial com o Filho de Deus. Isto significaria que João teria escrito Revelação e suas três cartas uns trinta anos antes (isto é, antes da época para a qual as evidências existentes apontam), portanto antes de 70 D.C., sendo esta data a defendida por alguns eruditos. (Veja Redatando o Novo Testamento, John A. T. Robinson, Londres, Inglaterra, 1976, págs. 221-311 em inglês.)
Por fim, a apresentação que Cristo fez de sua parousia como um evento tão visível quanto um relâmpago, em contraste com a vinda de alguns falsos cristos (que às vezes teriam de ser representados como estando em lugares escondidos, “no deserto” ou “nos aposentos interiores”) parece também pesar contra esta teoria. Que outra explicação existe, então, para o uso do termo “imediatamente” no trecho que estamos considerando?
Alguns comentaristas indicam que é bem possível que Mateus pode ter usado a palavra traduzida por “imediatamente” (eutheos), num sentido diferente do habitual. É amplamente reconhecido que Marcos, em seu evangelho, usa com muita frequência o advérbio quase idêntico euthas, não no sentido comum “imediatamente, de repente”, mas num sentido “atenuado”.28 Conforme o Dr. David Tabachovitz indica em seu estudo cuidadoso sobre o uso que Marcos faz de euthus, seu propósito era com frequência chamar a atenção do leitor para algo novo, e a melhor tradução em tais casos seria então, “veja,…”29 Por isso, ao comentar Mateus capítulo 24, versículo 29, O Novo Comentário Bíblico Revisado, sugere que “‘imediatamente’ (grego – eutheos) pode ter um sentido atenuado (euthys), assim como frequentemente tem em Marcos.”30
Similarmente, o Dr. Brunec mostra que este termo grego tem como um de seus significados “em sequência”, e ao passo que geralmente é usado para enfatizar a brevidade do intervalo de tempo entre um evento e o seguinte, pode ser usado também para denotar a ausência de qualquer evento interveniente. Assim, diz ele, afirmar que ‘depois do evento x ocorre “imediatamente” o evento y’, pode significar uma de duas coisas: Primeiro, esse evento y ocorre depois do evento x sem qualquer período interveniente de tempo; ou, segundo, esse evento y ocorre depois do evento x sem qualquer evento interveniente ou intermediário – sem qualquer ênfase na quantidade de tempo que possa passar.31 Neste último caso, Jesus estaria dizendo que, no curso dos eventos preditos (eventos sobre os quais os discípulos estavam indagando), depois da destruição de Jerusalém não haveria qualquer evento profetizado daquele tipo até o surgimento dos fenômenos celestiais que ele descreveu. Depois daquela catástrofe judaica a próxima coisa em ordem de sequência, seria o predito “sinal do Filho do homem.” Isto significa que, qualquer coisa que ocorresse durante os séculos que passariam entre aquele evento e a vinda dele, não seria vista como estando entre os eventos de importância messiânica, preditos, ou entre os eventos que constituiriam um sinal divino. Na realidade, a história demonstrou a ausência desses eventos intermediários.
Embora esta compreensão esteja completamente em harmonia com o uso gramatical e bíblico deste termo grego traduzido por “imediatamente”, admite-se que este não é o único significado possível da declaração de Jesus. Outra possível e relativamente simples solução para o problema merece consideração.
Será que quando disse “imediatamente depois da tribulação daqueles dias”, Jesus tinha em mente apenas a tribulação para os judeus entre os anos 66-70 D.C.? Deve-se lembrar que esta não foi a única tribulação da qual ele falou em sua profecia. Na realidade, todo o discurso antes de se mencionar a aflição dos judeus tinha sido nada mais que uma enumeração de diferentes tipos de tribulações, isto é, guerras, fomes, pestilências, e assim sucessivamente, o que ele chamou de “princípio das dores” (versículo 8), e o ódio, perseguição e outros problemas – chamados de “tribulação” (thlipsis) no versículo 9 – que sobreviriam aos seus seguidores no futuro. Ademais, a predita “grande tribulação” sobre os judeus pode não ter terminado com a destruição de Jerusalém em 70 D.C. Isto é indicado pelo relato paralelo de Lucas. Enquanto Mateus e Marcos citam a declaração sobre a vinda da “grande tribulação” à base de Daniel capítulo doze, versículo 1, Lucas dá a seus leitores não judaicos uma explicação mais detalhada da predição:
Porque haverá grande angústia sobre a terra, e ira contra este povo. E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos destes se completem. – Lucas 21:23,24, ARC.
Assim o relato paralelo de Lucas parece mostrar que a tribulação dos judeus não chegaria imediatamente ao fim depois da destruição de Jerusalém em 70 D.C. O cativeiro em países estrangeiros viria em seguida (como na realidade veio sobre os judeus que sobreviveram à destruição), e a cidade de Jerusalém seria pisada ou seria controlada por estrangeiros por um período indefinido, “até que os tempos destes se completem.”32
Então, com certeza é possível que Jesus, ao dizer que sua vinda ocorreria “imediatamente depois da tribulação daqueles dias”, não pensou só na tribulação que terminou com a destruição de Jerusalém, mas tinha em mente o período inteiro de tribulação que se seguiria, não só para o judeus mas também para seus próprios seguidores.33
Naturalmente a vinda de Cristo porá fim completo ou “abreviará” este período de tribulação ou aflição.34 (Mateus 24:22) Diz-se que esta redução do período de tribulação é “por causa dos eleitos.” Se a tribulação for entendida como algo que continuaria até a parousia, a declaração, “por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados”, é bem compreensível, porque se diz repetidamente que um importante objetivo da vinda de Cristo é a libertação dos seus escolhidos da aflição. – Marcos 13:20; 2 Tessalonicenses 1:4-10; 1 Tessalonicenses 4:17, 18; 1 Pedro 4:12, 13.
De modo que, segundo este ponto de vista, Cristo virá literalmente “imediatamente depois” da tribulação, sendo que sua vinda realmente a abreviará ou porá fim a ela.
Qualquer que seja o caso, apesar de seu aspecto atemorizante, o sinal da iminência desta vinda inspirará esperança nos cristãos fiéis, porque eles se lembrarão das palavras de Jesus: “Quando começarem a acontecer estas coisas, levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção de vocês.” (Lucas 21:28, NVI) O que significará esta redenção ou libertação dos seguidores fiéis de Cristo? Conforme mostrado por muitos trechos do Novo Testamento só pode significar seu ajuntamento com Cristo, para estarem com ele para sempre a partir daquele momento. (l Tessalonicenses 4:15-17; 2:1; João 14:3; Filipenses 3:20) Era evidentemente este evento que Jesus tinha em mente quando disse que, em sua vinda “imediatamente depois da tribulação daqueles dias,… enviará os seus anjos com grande som de trombeta, e eles ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma extremidade dos céus até à outra extremidade deles.”35 Mais adiante em seu discurso Jesus mencionou que naquele momento “dois homens estarão então no campo: um será levado junto e o outro será abandonado; duas mulheres estarão moendo no moinho manual: uma será levada junto e a outra será abandonada.” (Versículos 40, 41) Será também nessa vinda que Jesus abençoará seus “escravos fiéis e discretos” designando-os “sobre todos os seus bens”, mas aos escravos maus determinará sua parte com os hipócritas.36 (Mateus 24:45-51)
Assim, enquanto a vinda significará libertação e exaltação para os servos fiéis de Cristo, significará também julgamento e castigo para seus servos infiéis.
Conforme foi apontado no capítulo 1 deste livro, é só no versículo 30 de Mateus 24 que Jesus começa a falar do sinal de sua vinda, “o sinal do Filho do homem”. O texto paralelo em Lucas 21:25 menciona “sinais no sol, na lua e nas estrelas”. A linguagem usada aqui por Jesus é colorida pela linguagem dramática e poeticamente carregada usada pelos profetas do Antigo Testamento, quando eles previram como a criação física tremeria e seria abalada com a intervenção de Deus no mundo da humanidade em seu tempo de executar o julgamento sobre diferentes nações. (Compare Mateus 24:29, Marcos 13:24-26 e Lucas 21:25, 26 com Joel 2:10, 31; Isaías 13:10; 34:4; 51:15; Ezequiel 32:7, 8; Habacuque 3:8; Ageu 2:6 e Salmo 77:17-19.) Mas, ainda que Jesus tenha usado uma forte linguagem simbólica, é óbvio que o “sinal” que ele tinha em mente era algo que poderia ser claramente distinguido das crises comuns que sempre caracterizaram a história humana. Quando “o sinal do Filho do homem” aparecesse “no céu”, não seria possível que os viventes o ignorassem ou o interpretassem mal. Aqueles sobre quem o julgamento cairia perceberiam que era Deus quem estava intervindo. — Mateus 24:30; Lucas 21:25-26.
Embora o sinal geraria angústia e medo entre as pessoas sobre quem o julgamento viria, ele seria um sinal de libertação para os discípulos de Jesus:
Mas, quando essas coisas começarem a ocorrer, ponham-se de pé e levantem a cabeça, porque o seu livramento está se aproximando.” — Lucas 21:28, TNM.
Visto que Jesus havia explicado aos seus discípulos que o “dia e a hora” deste evento seriam totalmente desconhecidos para eles, ele os incentivou a se manterem despertos e preparados. — Mateus 24:36, 42-44.
Visto que o tempo — “o dia e a hora” — para este julgamento seria desconhecido para os discípulos, seria impossível eles calcularem com antecedência quando ocorreria. Tentar fazer isso, quer por interpretações dos “sinais dos tempos”, quer com a ajuda de algum cálculo cronológico, seria ignorar os avisos de Jesus.
Os “últimos dias” – quais são?
Conforme já foi mencionado, a ideia popular dos “últimos dias” é que eles se referem a um período de tempo que antecede a vinda de Cristo para o julgamento e que serve como uma indicação de que esse evento está prestes a ocorrer. Embora esta seja uma ideia comum, será que é isto realmente que a Bíblia ensina?
O próprio Jesus nunca usou a expressão “os últimos dias” em quaisquer de suas considerações sobre o que o futuro traria. Ele mencionou “o último dia” (no singular), mas foi para descrever o que ele faria depois que já tivesse vindo e iniciado o julgamento final. (Compare com João 6:39, 40, 44, 54; 7:37; 11:24; 12:48.) Ademais, em todo o conselho dele aos discípulos declara-se explicitamente que não haveria nada no curso dos eventos humanos que seria tão notável, tão diferente e tão sem igual, que os habilitaria saber, à base dessas condições, que a vinda dele estava prestes a ocorrer. Na realidade, a própria natureza ordinária, uniforme e repetitiva dos eventos e condições humanas ocasionaria o perigo de eles se tornarem espiritualmente sonolentos, complacentes, bem ao contrário de um período de condições muito incomuns e eventos surpreendentes que poderia produzir um estado de agitação excitante e expectativa ansiosa. – Mateus 24:43, 44,; 25:1-6, 13; Lucas 12:35-40; 17:26-30; 21:34-36.
Passando aos escritos de seus apóstolos e discípulos, o que encontramos? Pedro, Paulo, Tiago e Judas, todos fizeram referência aos “últimos dias”. Encontramos primeiro o apóstolo Pedro falando sobre os “os últimos dias” no dia de Pentecostes, cinquenta dias depois da morte e ressurreição de Jesus. Falando à multidão reunida ele lhes disse que o que eles haviam testemunhado – os discípulos estando cheios de espírito santo e falando em línguas diferentes – era o cumprimento da profecia de Joel, e daí disse:
“‘Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos. Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão. Mostrarei maravilhas em cima, no céu, e sinais em baixo, na terra: sangue, fogo e nuvens de fumaça. O sol se tornará em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo!’ – Atos 2:17-21, NVI.
Assim, Pedro aplica os “últimos dias” àquele momento. Num esforço de contornar este fato, alguns fazem a alegação de que ele só usou a expressão com referência aos últimos dias da nação de Israel, conduzindo à destruição de Jerusalém em 70 DC.37 Mas Pedro não diz isto e dificilmente temos autorização para pôr palavras em sua boca ou presumir um significado que não se afirma em parte alguma. O fato é que Pedro evidentemente usa o termo num contexto que abrange a vinda do “dia do Senhor” e a salvação que esse dia traz. Ele não limita os “últimos dias” de que falou aos poucos anos até 70 D.C., mas evidentemente os estende até o dia de julgamento de Deus através de Cristo.
Na segunda carta de Paulo a Timóteo, depois do aconselhá-lo acerca das difíceis circunstâncias e problemas que ele teria de enfrentar ao servir seus concristãos, Paulo disse então:
Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta-te também desses. – 2 Timóteo 3:1-5, ARC.
Estava Paulo falando condições que só prevaleceriam em algum futuro distante, talvez no século vinte, por exemplo? Seus próprios escritos indicam o contrário. Em sua carta aos romanos ele escreve sobre o modo como as pessoas estavam se conduzindo, e descreve tais pessoas em termos idênticos:
… estando cheios de toda a injustiça, malícia, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, dolo, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pais; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, sem misericórdia; os quais, conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam. – Romanos 1:29-32, ARC.
Que diferença existe nestas duas descrições? Elas são obviamente iguais em termos de alcance e intensidade. Sendo assim, podemos entender por que Paulo, ao escrever a Timóteo sobre as condições dos “últimos dias” (ou, como a Nova Bíblia Inglesa verte, “a era final deste mundo”), pôde dizer – no tempo presente do verbo – que Timóteo deveria ‘afastar-se’ dessas pessoas. Em harmonia com isto, nas palavras subsequentes Paulo fala sobre indivíduos dentre “esses” (NVI, “dentre estes mesmos”, TNM) que naquele momento estavam contaminando até mesmo a fraternidade cristã, e ele faz isso novamente no tempo presente do verbo. (2 Timóteo 3:6-9) Segundo as próprias expressões de Paulo e segundo o contexto de sua carta a Timóteo, os “últimos dias” referiam-se a um período contínuo que já estava em curso, o período no qual Timóteo vivia, e relacionava-se com condições, atitudes e tipos de pessoas com as quais Timóteo já se confrontava, e teria de se confrontar durante o ministério dele. Os esforços que se fazem para contornar a evidência resultam novamente em dar um sentido às palavras de Paulo que não se encontra nelas, um sentido que é inserido na ânsia de apoiar uma ideia preconcebida e um significado que não está de acordo com o contexto.
Tiago, em sua carta, dirige-se a pessoas ricas que tinham ‘entesourado para os últimos dias.’ (Tiago 5:1-3, ARC) Esta expressão admite variadas versões. Assim, algumas traduções falam de riqueza armazenada “nos últimos dias” (TNM), “nestes últimos dias” (NVI), “numa era que está próxima de seu fim” (Nova Bíblia Inglesa). A preposição grega usada (en) significa literalmente “em”. Independentemente de qual versão alguém prefira, esta declaração não provê certamente qualquer fundamentação de peso sobre a qual elaborar um conceito de “últimos dias” como significando um período identificável que antecede imediatamente, e sinaliza a vinda de Cristo. A força e o conteúdo do contexto desta expressão dá muito mais fundamentação às afirmações já consideradas de Pedro e Paulo.
Tanto Pedro como João advertem contra ridicularizadores que ‘virão nos últimos dias’, questionando a certeza do dia de julgamento de Deus. (2 Pedro 3:4; Judas 17, 18) Mais uma vez, porém, ambos os escritores indicam que essa ridicularização ocorreria durante a vida daqueles a quem eles estavam escrevendo; eles já apresentam o escárnio deles como uma atitude a ser enfrentada e, conforme Judas coloca, os cristãos daquela época mesmo deveriam se prevenir contra essas pessoas egoístas e sem espiritualidade como “homens que causam divisões entre vocês”. (Judas 19, NVI)
Pedro mostra que é o próprio fato de o padrão geral da vida e das condições humanas continuarem essencialmente os mesmos que provê a base para essas pessoas expressarem a descrença; ele não diz que elas veem condições extraordinárias, nunca antes vistas e então se recusam a reconhecê-las como um “sinal”. Em vez disso, ele compara sua atitude de falta de fé com a que resultou na destruição das pessoas no Dilúvio. Conforme Jesus tinha declarado, as pessoas daquela época não estavam precavidas por alguma condição incomum; elas estavam vivendo no que era para elas uma época de normalidade, “comendo, bebendo, casando-se e sendo dadas em casamento”, com nada que servisse como uma premonição da destruição que rapidamente, sem aviso, veio sobre elas. (Mateus 24:38, 39)
Essa descrença, e o ponto de vista zombador que ela gera, existiu em todos os séculos até os dias atuais. Isso não é característico apenas de nossa época.
De modo que há razão para crer que os apóstolos e discípulos de Cristo Jesus aplicaram a expressão “os últimos dias” àquele período da história humana desde o aparecimento, morte e ressurreição do Messias até o tempo do julgamento final. Assim, a Carta aos Hebreus começa com a declaração:
Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias [nesta era final, Nova Bíblia Inglesa] falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. – Hebreus 1:1, 2, NVI.
O longo panorama da história humana, desde seu começo até hoje, poderia assim ser comparado a um drama de três atos. Nesse drama, o primeiro e o segundo atos conduzem até o final, e quando a cortina se eleva para o terceiro ato, as pessoas sabem que o drama entrou em sua parte final, e caminhará para o fim quando a cortina descer. À base da evidência bíblica, o drama da história humana entrou em sua fase final, seu “terceiro ato”, com a vinda do Messias e sua morte e ressurreição. Esses eventos dramáticos constituíram o limite entre fases, marcando o início da era final deste mundo, seus últimos dias.
O verdadeiro sinal e seu significado
Jesus declarou que a humanidade, toda ela, veria um sinal relacionado com sua vinda. O que é este sinal que anuncia a proximidade do julgamento dele e o ansiosamente aguardado livramento dos cristãos fiéis? (1 Coríntios 1:7; 1 Tessalonicenses 1:10) Mui obviamente, são os fenômenos cósmicos descritos em Mateus capítulo vinte e quatro, versículos 29, 30. Ao se aproximar o Filho do Homem, revestido de poder divino e glória, a natureza treme e o céu fica escuro. O texto paralelo de Lucas dá detalhes adicionais:
“Haverá sinais [grego, semeia, o plural de semeion] no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações estarão em angústia e perplexidade com o bramido e a agitação do mar. Os homens desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao mundo; e os poderes celestes serão abalados. Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem com poder e grande glória. – Lucas 21:25-27, NVI.
Quando estas coisas começarem a ocorrer, disse Jesus, “vosso livramento está próximo”, “às portas”. De modo que, esta comoção cósmica é o sinal sobre o qual os discípulos indagaram. É interessante notar que Lucas menciona diretamente sinais no sol na lua e nas estrelas, enquanto Mateus fala do obscurecimento destes corpos celestes e assim por diante, e acrescenta que “então aparecerá no céu o sinal (semeion) do Filho do homem.” À base desta comparação, parece evidente que o “sinal do Filho do homem” é esta conflagração cósmica, os “sinais no sol na lua e nas estrelas”, o abalo dos “poderes dos céus”, seguidos pelo “rugido do mar e sua agitação”, e assim por diante.38
Conforme já declarado, a linguagem usada aqui reflete a que é usada em muitas profecias do Velho Testamento que tratam de julgamentos divinos no passado. É claro que a linguagem daqueles profetas antigos era altamente simbólica, e que eles usaram fenômenos físicos para descrever mudanças catastróficas no mundo social e espiritual, tais como a convulsão de dinastias e a destruição de nações hostis a Israel. A profecia de Isaías sobre a queda da antiga Babilônia, por exemplo, inclui a predição que “as estrelas do céu e as suas constelações não mostrarão a sua luz; o sol nascente escurecerá, e a lua não fará brilhar a sua luz.” (Isaías 13:10, NVI) Os antigos profetas predisseram a destruição da Iduméia e do Egito em termos similares. (Isaías 34:4; Ezequiel 32:7, 8) O “rugido do mar e sua agitação” também são uma característica comum em textos do Velho Testamento que tratam de intervenções divinas no mundo dos homens. (Isaías 51:15; Habacuque 3:8; Ageu 2:6; Salmo 77:17-19).39 Quando se consideram as convulsões cósmicas em conexão com a vinda de Cristo estes paralelos são com frequência apontados – e apropriadamente – para exemplificar que não se deve tomar a descrição de modo demasiadamente literal.40
Por outro lado, há também o perigo de espiritualizar a parousia, fazendo-a significar nada mais que grandes mudanças no mundo religioso ou político. Outros textos, como 2 Pedro capítulo três, versículos 4 a 13, não são facilmente explicados como meros símbolos dessas conflagrações.41 Incontestavelmente, o século vinte presenciou grandes comoções sociais e políticas, incluindo duas guerras mundiais. Mas será que estas coisas fizeram os homens ficarem “desalentados de temor e na expectativa das coisas que vêm sobre a terra habitada”? (Lucas 21:26) Os autores deste livro não negam que haja muito medo no mundo hoje. A liderança das Testemunhas de Jeová em particular alega que este medo é algo novo, e que cumpre a profecia de Jesus de maneira exclusiva.42 Todavia, conforme foi apropriadamente demonstrado neste livro, outros períodos no passado foram igualmente caracterizados pelo medo generalizado, como por exemplo, a época da Peste Negra no século 14. Na realidade, o Pastor Russell, fundador da organização Torre de Vigia, defendia que o “medo” predito era claramente evidente na parte final do século 19!43

Atualmente, basta que cada um olhe ao redor de si, para seus vizinhos, as pessoas nas ruas, os colegas no trabalho, nos afazeres diários e no lazer, e pergunte – quão grande é o medo que todas estas pessoas demonstram? O fato é que, apesar das bombas atômicas e de hidrogênio, das espetaculares atividades espaciais e viagens à lua e das conflagrações políticas ou econômicas, a vasta maioria das pessoas continua como as pessoas que viveram no passado, suas mentes estão ocupadas com suas preocupações comuns do dia-a-dia e seus planos para o futuro.44 O medo do crime, da guerra, da doença, ou de qualquer calamidade raramente produz mais que uma vaga sensação de desconforto, e não a agitação extrema descrita na profecia, e esses medos geralmente são sufocados pelos interesses do dia-a-dia. E Jesus predisse que não seria nada diferente no momento em que, com a rapidez do raio, o “laço” se fecharia com a chegada da época do julgamento divino, trazendo circunstâncias genuinamente atemorizantes. Mateus 24:36-39; Lucas 17:26-30; 21:34-36.
Qualquer que tenha sido o medo sentido no passado e no presente, ele será mínimo diante do pânico universal que realmente cumprirá a profecia. Jesus não falou sobre o medo do que poderia acontecer, e sim sobre aquele que resulta em os homens entenderem o que acontecerá por causa do abalo dos “poderes dos céus.” (Lucas 21:26) Isto se refere evidentemente ao momento em que “o sinal do Filho do Homem” for visto, quando, segundo o texto paralelo de Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 30, “todas as tribos da terra se lamentarão” (ARC) Esta situação não é apresentada como tendo qualquer coisa que ver com as atividades internas da humanidade, do tipo das que periodicamente assustam as pessoas. Em vez disso, ela será causada por conflagrações cósmicas de tais proporções que os homens “desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao mundo.” (NVI)45 O que quer que sejam os fenômenos cósmicos que introduzem a parousia, uma coisa parece clara à base do contexto. Como sinal inconfundível da parousia eles serão certamente relacionados a atos que todos na terra perceberão clara e inegavelmente como sendo de origem divina, e assim totalmente distintos das antigas e comuns experiências humanas com a guerra, fome, pestilência e terremotos.
Sendo desta natureza, os fenômenos cósmicos serão reconhecidos pelos seguidores de Cristo como predizendo o momento decisivo supremo e final na história da humanidade: A vinda de Cristo para acabar para sempre com a atual era iníqua com suas guerras, fomes, pestilências e muitas outras dificuldades, e trazer uma nova era, “a era que há de vir”, da qual ele será o Senhor. (Marcos 10:30) Que sejamos “considerados dignos de tomar parte na era que há de vir” e ser abençoados por seu Senhor com vida, paz, felicidade e liberdade para sempre! (Lucas 20:35) Até que esta era chegue, precisamos viver cada dia de nossas vidas dum modo que demonstre que temos em mente o apelo urgente com o qual, segundo a versão de Marcos, Jesus concluiu seu discurso:
Fiquem atentos! Vigiem! Vocês não sabem quando virá esse tempo.
É como um homem que sai de viagem. Ele deixa sua casa, encarrega de tarefas cada um dos seus servos e ordena ao porteiro que vigie.
Portanto, vigiem, porque vocês não sabem quando o dono da casa voltará: se à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo ou ao amanhecer. Se ele vier de repente, que não os encontre dormindo!
O que lhes digo, digo a todos: Vigiem!” – Marcos 13:33-37, NVI.
Notas
1 – Citado de uma tradução do artigo de Brunec, em latim, sobre Mateus 24, Marcos 13, Lucas 17 e Lucas 21, que apareceu nos fascículos seriados de Volumes 30 (1952) e 31 (1953) do periódico Verbum Domini, publicado em Roma, Itália.
2 – O Evangelho Segundo Marcos, professor J. A. Alexander, 1858, página 348 em inglês. (Reimpresso em 1980 pela Casa Publicadora Baker, Grand Rapids, Michigan, EUA.) Sabe-se de vários falsos profetas, falsos instrutores e impostores fanáticos no período até 70 A.D., tais como Simão Mago, Elimas, Teudas, Judas o gaudonita, Dositeo, Menander e Cerinto. O historiador judaico Josefo (Antiguidades XX, viii , 5, 6) diz também que durante o reinado do Imperador Nero a Judéia “estava repleta de bandidos e impostores que iludiam a multidão.”
3 – Num esforço de atenuar este ensino claro de Jesus, a liderança das Testemunhas de Jeová tem apelado para a declaração de Amós 3:7: “Pois o Soberano Senhor Jeová não fará coisa alguma sem ter revelado seu assunto confidencial aos seus servos, os profetas.” (TNM) Veja os comentários sobre este texto em A Sentinela de 1º de outubro de 1984, página 7, e especialmente na de 15 de setembro de 1974, página 547. Todavia, Amós 3:7 não quer dizer que Jeová revelará “os tempos ou épocas” do reino e da parousia aos seus servos. Atos 1:7 enfatiza que esse conhecimento “não pertence” a eles. Mas ele revela seu “assunto confidencial”, ou seja, seu “plano” (Amós 3:7, NVI) ou “desígnio” (LEB) a eles. Ele conta aos seus servos o que vai fazer, mas não necessariamente quando vai fazê-lo.
Outro texto que tem levado alguns a concluir que Jesus quis dar alguma indicação sobre o tempo de sua parousia é Mateus 24:34: “Deveras, eu vos digo que esta geração (grego: geneá) de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram.” Todavia, seria estranho afirmar primeiro que a vinda ocorreria dentro do período de certa geração, e logo em seguida acrescentar que a época da vinda é totalmente desconhecida, até mesmo para o próprio Filho do Homem. (Compare com Marcos 13:32) Uma vez que geneá não significa apenas “geração” mas também “raça” e até mesmo “era” (veja “geneá” em TDNT, Vol I), o problema é resolvido se supormos que Jesus se referiu à raça judaica, ou talvez à era presente naquele momento: “Esta raça judaica (ou, esta era) de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram.” Por outro lado, muitos eruditos apontam a similaridade com a declaração em Mateus 23:36, onde a geração judaica contemporânea que veria a destruição do templo estava claramente em foco. Eles tomaram então a declaração de Jesus em Mateus 24:34 como uma referência posterior a Mateus 24:3, respondendo à pergunta dos discípulos, “Quando sucederão estas coisas (a destruição do templo que havia acabado de ser mencionada)?” Veja a excelente abordagem destes trechos feita pelo Dr. F. F. Bruce em Os Pronunciamentos Enérgicos de Jesus, Downers Grove, Ilinóis, 1983, págs. 225-230 em inglês.
Outro ponto a se notar é que a palavra “esta” (haute) em “esta geração” mostra que Jesus falava da geneá contemporânea dele, já que haute sempre se refere a algo próximo ou presente. Ele não poderia estar se referindo a uma geração que apareceria no cenário cerca de 1900 anos depois, como defende a liderança das Testemunhas de Jeová. Ele falava da geneá contemporânea, assim ele se referia à “geração” (ou, possivelmente, à “raça” ou “era”) existente naquele momento.
4 – Alguém poderia pensar que Jesus estava se referindo à “primavera” em vez de ao “verão” neste texto. Todavia, os judeus na Palestina só falavam de duas estações, verão e inverno, essencialmente uma estação quente e, sobretudo seca, e outra fria e chuvosa. As referências a “chuvas de primavera” e “chuvas de outono” em textos tais como Deuteronômio 11:14 dizem literalmente em hebraico “as primeiras chuvas” e “as últimas chuvas.” De modo que o aparecimento das folhas nas árvores era um sinal indicativo seguro de que a estação quente estava prestes a substituir a estação fria e chuvosa.
5 – Anteriormente, a Despertai! de 22 de abril de 1969 havia admitido honestamente na página 23 que os grupos que “em tempos passados predisseram um ‘fim do mundo’, até mesmo anunciando uma data específica” foram “culpados de profetizar falsamente” já que “o fim não veio”.
Porém, uma vez que no decorrer do tempo muitos tomaram conhecimento das predições fracassadas que a liderança das Testemunhas de Jeová fez no passado, eles foram obrigados a mudar esse discurso franco. Num artigo intitulado “Por Que Tantos Alarmes Falsos?”, na Despertai! de 22 de março de 1993, páginas 3 e 4, a organização tenta agora justificar o procedimento desses grupos, afirmando que “alguns fazem predições espetaculares do fim do mundo para atrair atenção e adeptos, mas outros convencem-se sinceramente de que suas proclamações são verídicas. Enunciam expectativas à base de sua própria interpretação de algum texto bíblico ou acontecimento físico.” O mesmo parágrafo da revista diz que não se deve encarar essas predições não cumpridas como ‘falsas profecias’, mas simplesmente como fruto da “falibilidade humana” e da ‘má interpretação das coisas’.
A nota de rodapé na página 4 da revista trata do caso das Testemunhas de Jeová (na realidade a liderança delas, a verdadeira mentora das predições). Citam-se várias publicações antigas, dando a entender que suas predições nunca foram atribuídas a Deus (muito embora eles saibam que isso foi feito regularmente em suas publicações e foi esse o motivo básico de tantos aceitarem essas profecias como ‘verdade revelada’).
Esse artigo da Despertai! não passa de uma vã tentativa da organização de se justificar, mudando o sentido claro do texto de Deuteronômio 18:20-22. O texto diz apenas que se a profecia não se cumprisse, aquele que a havia proferido sem autorização deveria ser considerado como falso. O cumprimento (ou não) da profecia é que seria o parâmetro de avaliação. O grau de ‘convicção sincera’ de quem atribuísse “sua própria interpretação de algum texto bíblico ou acontecimento físico” a Deus, como se fosse palavra Dele, não justificaria de modo algum o procedimento, nem tornaria esse pretenso profeta menos falso.
6 – Na Sentinela de 1º de setembro de 1985, explica-se que a vigilância cristã envolve prestar atenção a duas coisas, a saber, 1) “o fator tempo” e, 2) “o sinal composto de muitos aspectos”.
Mas o registro de mais de 100 anos de datas e predições fracassadas da liderança das Testemunhas de Jeová mostra que este não poderia ser o tipo de vigilância recomendada por Jesus. Contudo, em vez de deplorar e reprovar este tipo de predição e marcação de datas, eles tentam, no mesmo artigo, elevar isto à condição de uma virtude cristã, dizendo: “Realmente, certas expectativas que pareciam ter o apoio da cronologia bíblica não se concretizaram na ocasião aguardada. Mas, não é bem mais preferível cometer alguns erros, devido à demasiada ansiedade de ver cumpridos os propósitos de Deus, a estar dormindo em sentido espiritual quanto ao cumprimento das profecias bíblicas?” (Página 24) Todavia, Jesus advertiu contra AMBOS; a “sonolência espiritual” e profetizar presunçosamente. As duas coisas eram e são erradas. Em vez dessas coisas, Jesus exortou à vigilância que governa o modo de vida da pessoa o tempo todo, já que não seria possível prever a época da parousia dele com antecedência.
7 – Compare, por exemplo, 2 Samuel 15:7 e 2 Reis 8:3 (qets=telos) com Daniel 12:4, 13 (qets = syntéleia). Neste último versículo, a LXX (Versão Septuaginta) traduz duas vezes qets como syntéleia: “E quanto a ti mesmo, vai para o fim (syntéleia); e descansarás, porém, no fim (syntéleia) dos dias erguer-te-ás para [receber] a tua sorte.”
8 – Que syntéleia não significa um longo período de “últimos dias”, como a liderança das Testemunhas de Jeová alega, é também evidente à base do modo como esta palavra é usada em Mateus 28:20. Ali Jesus prometeu ajudar seus discípulos “até a terminação (syntéleia) do sistema de coisas.” (TNM) Se a “terminação” tivesse começado em 1914, então a ajuda de Cristo na pregação do Reino teria sido “até” aquela data e chegado ao término, findando naquele momento. Que, em vez disso, esta “terminação” refere-se a um fim verdadeiro e não ao período de uma vida que começou em 1914 e abrangeu décadas é tão óbvio que A Sentinela de 1º de novembro de 1977 teve de admitir: Visto que o predito fim ainda não chegou, a ordem, de fazer discípulos, continua em vigor.” (Pág. 660) Deste modo a “terminação do sistema de coisas” de Mateus 28:20 é equiparada rigorosamente com “o fim” (telos) de Mateus 24:14!
9 – Veja Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, 1923, págs. 21-24, em inglês.
10 – Testemunhos, Ellen G. White, Vol. 9, pág. 11 em inglês. Citado em Adeus, Planeta Terra, pág. 50, em inglês.
11 – Deus Cuida, C. Mervyn Maxwell, 1985, Vol. 2, págs. 20 e 21, em inglês.
12 – Alguns exemplos são: 1 Enoque 80:2-8; 99:4-8; Jubileus 23:13-25; Ascensão de Moisés 8:1 e 10:5. Veja também O Método e a Mensagem do Judaísmo Apocalíptico, D. S. Russell. Londres, 1964, págs. 271-276, em inglês.
13 – 2 Baruque 25:1-4; 27:2-8; 29:1-4.
14 – No Antigo Testamento as “dores de parto” são também usadas com frequência em sentido figurado para qualquer tipo de angústia e tribulação, por exemplo, em Êxodo 15:14; Salmo 48:6; 73:4; Isaías 26:17; Jeremias 13:21; 22:23; 49:24; Oséias 13:13 e Miquéias 4:9, 10.
15 – É bem possível que o uso que Jesus fez do termo “dores de parto” não tenha refletido o uso rabínico de qualquer modo. O mais antigo uso rabínico conhecido da expressão é o do rabino Eliezer (por volta de 90 D.C.). Além disso, os rabinos judaicos sempre falaram da “dor de parto” do Messias no singular, ao passo que Jesus usou o plural. Veja o comentário sobre Mateus 24:8 em Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch, H. L. Strack e P. Billerbeck, Vol. 1, Munique, Alemanha, 1922-28.
16 – O comentário do Dr. David Hill sobre Mateus 24:6-8 é um excelente acréscimo à consideração acima: “Guerras, rumores de guerras e desastres acompanhantes foram considerados como sinais da proximidade do fim no pensamento apocalíptico judaico. Para restringir antevisões empolgantes, Mateus faz duas observações importantes: primeiro, estes eventos inquietantes têm de ocorrer de acordo com o propósito de Deus (segundo Daniel 2:28) e, uma vez que a história está sob o controle de Deus, os crentes podem e devem permanecer tranquilos; em segundo lugar, estes eventos serão apenas o princípio dos sofrimentos, ou literalmente das “dores de parto”, que é quase um termo técnico para as tribulações que conduzem ao fim da era, que serão enfrentadas pela comunidade do eleitos. Os desastres pelos quais eles passam são apenas um prelúdio, e não há margem para o fervor apocalíptico.” (O Evangelho de Mateus, Eerdmans, 1981). Quanto à expressão “dor de parto”, o apóstolo Paulo a usa também como um símbolo em sua referência ao “dia do Senhor” em 1 Tessalonicenses 5:3. Mas deve-se observar que ele compara esta “dor de parto” (no singular!) com a própria destruição súbita, não com qualquer “sinal” que a antecede.
17 – Conforme mostrado por textos tais como João 16:33, Atos 14:22 e 1 Tessalonicenses 3:23, estes sofrimentos hão de vir sobre os cristãos neste mundo. O livro de Apocalipse, escrito numa época de grande tribulação para a Igreja Cristã, focaliza repetidamente estes sofrimentos (1:9; 2:9, 10; 3:10; 6:9-11; 12:17; 13:7), e aponta para o tempo em que os cristãos “sairiam” vitoriosamente dessa “grande tribulação” e desfrutariam da recompensa pela sua perseverança. (Apo. 7:9-17)
18 – A Sentinela de 1º de fevereiro de 1982, pág. 14; Despertai! de 8 de setembro de 1982, pág. 8. É notável a frequência com que as organizações religiosas assumem a mesma atitude para com dissidentes dentro de suas fileiras que elas condenam constantemente em outras denominações. Assim, ao passo que a liderança das Testemunhas de Jeová condena fortemente o modo como a Igreja Católica Romana lidou com seus dissidentes em séculos anteriores e elogia regularmente esses dissidentes como heróis cristãos, ela trata seus próprios dissidentes com extrema crueldade religiosa: classifica-os como apóstatas sem lei, difama seu caráter, excomunga-os e corta-os de todos os contatos com ex-irmãos cristãos, amigos e parentes, sendo frequentemente a única razão o fato de estes serem dissidentes como o Valdenses, os Wyclifitas e os primitivos reformadores, que acreditavam que a Bíblia é “a única fonte de verdade religiosa” em confronto com a qual todas as ideias, interpretações e alegações de autoridade religiosa têm de ser testadas. É também um fato que a liderança das Testemunhas de Jeová, assim como a Igreja Católica Romana, considera sua própria organização como uma autoridade divina distinta, ao lado da Bíblia. Ensina-se, assim, que “a menos que estejamos em contato com este canal de comunicação usado por Deus, não avançaremos na estrada da vida, não importa quanto leiamos a Bíblia.” (A Sentinela de 1º de agosto de 1982, pág. 27.)
* NT: Atualmente o número é superior a 2 bilhões.
19 – A organização das Testemunhas de Jeová parece rejeitar virtualmente toda a pregação do evangelho feita durante todos os séculos após a morte dos apóstolos e alega ser a única denominação destas 20.800 que prega o verdadeiro evangelho hoje! Qual é, então, a única importante diferença entre o evangelho das Testemunhas e o dos outros cristãos? A Sentinela de 1º de novembro de 1981, explicou na página 17: “Compare a pessoa sincera a espécie de pregação do evangelho do Reino feita pelos sistemas religiosos da cristandade, durante todos os séculos, com a feita pelas Testemunhas de Jeová desde o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918. Não são iguais. A das Testemunhas de Jeová é realmente “evangelho”, ou “boas novas”, sobre o reino celestial de Deus, estabelecido pela entronização de seu Filho, Jesus Cristo, na fim dos Tempos dos Gentios em 1914.” Porém, se esta entronização em 1914 – que foi demonstrada aqui neste livro como uma ilusão – é a característica mais distintiva do evangelho delas, a pregação mundial desta mensagem dificilmente tem de qualquer modo algo que ver com a predição de Jesus. Ademais, quando Jesus falou sobre “este” evangelho do reino, ele só poderia estar se referindo ao evangelho que ele e seus apóstolos estavam pregando naquele momento. Compare com Mateus 26:13, onde a frase “este evangelho” (“estas boas novas”, TNM) também ocorre. Por alegar que Mateus 24:14 cumpriu-se em pequena escala antes de 70 D.C., a liderança das Testemunhas de Jeová na verdade admite isto. Assim, Jesus não tinha em mente algum novo e surpreendente evangelho, a ser apresentado no século 20. Gálatas 1:6-8 na realidade condena “novos” evangelhos que obscureçam ou corrompam as originais e genuínas “boas novas” que foram pregadas no primeiro século.
20 – A referência é provavelmente a Daniel 9:27, onde a LXX apresenta a mesma expressão de Mateus 24:15: to bdelygma tes eremoseos (“a abominação da desolação”).
21 – Eusébio (História Eclesiástica III,v,3), que pode ter obtido sua informação do escritor do segundo século Hegesipo, diz que os cristãos em Jerusalém fugiram para Pela, na Peréia, a moderna Tabakdt Fahil. Embora este lugar esteja no vale do Jordão (na verdade abaixo do nível do mar), o caminho até lá passava por colinas montanhosas. A história de Eusébio menciona apenas os cristãos de Jerusalém. Outros cristãos na Judéia podem ter fugido para outros lugares nas montanhas.
22 – As Guerras Judaicas, Flávio Josefo, V,x,5. Alguns sugerem que a expressão “tal como nunca… nem tampouco haverá” pode ter sido usada com a finalidade de ênfase, e talvez não deva ser tomada muito literalmente. (Mat. 24:21; Dan. 12:1; compare, por exemplo, com Êxodo 10:14 e Joel 2:2.) É possível também que a expressão “como nunca ocorreu” (em Mat. 24:21) não se refira ao grau de severidade da “grande tribulação”, mas ao seu aspecto único, sendo seu significado e suas consequências nada mais que os procedimentos de Deus para com seu povo. (Compare com Jeremias 30:7: “Como será terrível aquele dia! Sem comparação! Será tempo de angústia para Jacó; mas ele será salvo.” [NVI]). Por outro lado, é possível que nenhuma cidade na história tenha sofrido tão severamente quanto Jerusalém sofreu nos anos 66-70 D.C.
23 – Como se Preparar Pessoalmente para a Segunda Vinda de Cristo, Oral Roberts, página 38 em inglês.
24 – Comentário Sobre Marcos, H. B. Swete, reimpressão de 1977 da edição de 1913, Kregel Publicações, Grand Rapids, Michigan, página 310 em inglês. O professor Alexander Jones também comenta: “Mostrar: isto é, anunciar, profetizar (conforme Deut 13:1-3), não, ‘executar’.” (O Evangelho de São Marcos. Londres-Dublin 1963, 1965, pág. 197 em inglês.)
25 – Não estamos argumentando que Cristo será observado da terra como uma figura literal sentando ou postado numa nuvem literal nos céus acima, como alguns parecem defender, entendendo de maneira bem literal um texto como Revelação 1:7. Enfatizamos o fato de que a Bíblia apresenta a parousia de Cristo, o aparecimento glorioso dele, como um evento que será visto imediatamente e entendido por toda a humanidade como uma intervenção divina e sobrenatural nos assuntos humanos. Assim não há necessidade de definir se este evento incluirá ou não a visão de uma figura literal numa nuvem literal. Em defesa da ideia de que a parousia de Cristo é invisível à humanidade, a liderança das Testemunhas de Jeová recorre à declaração de Jesus em João 14:19:
“Mais um pouco e o mundo não me observará mais.” (Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, 1989, pág. 142.) Por atribuir à expressão ‘não mais’ (grego, ouketi) um sentido absoluto, “nunca mais”, eles sustentam que Cristo será invisível até mesmo em seu futuro “aparecimento”.
Mas este argumento é insustentável tendo em vista o que Jesus disse em João 16:16: “Dentro em pouco não me observareis mais (ouketi), e, novamente, dentro em pouco me vereis.” (Compare também com o versículo 10.) Aqui o “não me observareis mais” significa não ver mais só por algum tempo. A expressão não está sendo usada no sentido absoluto “nunca mais”. De modo que o “não me observará mais” em João 14:19, pode ter sido usado em sentido similar, limitado, referindo-se ao período da ausência de Cristo até a sua parousia.
26 – Brunec, ad loc. Brunec, por sua vez, faz referência ao estudo feito pelo erudito francês J. P. Bonsirven.
27 – De fato, há vários comentaristas que defendem que a parousia ocorreu em 70 DC. A consideração mais abrangente desta ideia é a de J. Stuart Russell em A Parousia, publicado originalmente em 1878. Veja também O Espírito da Profecia, de Max R. King, Warren, Ohio, EUA, 1971 (em inglês – 2ª impressão em 1981). Nesta consideração a parousia é identificada com a tribulação judaica que culminou com a destruição de Jerusalém em 70 DC. Embora esta tenha sido certamente uma “visitação divina” e julgamento, o próprio Cristo disse que sua vinda ocorreria “após a tribulação daqueles dias.” (Mat. 24:29)
28 – Os dois advérbios são praticamente idênticos, sendo ambos formados a partir do adjetivo euthus e usados exatamente da mesma maneira. (Veja Liddell & Scott)
29 – Die Septuaginta und das Neue Testament, David Tabachovitz, Lund, Suécia, 1956, págs. 29-35. Como Tabachovitz mostra, traduções gregas antigas do Velho Testamento, como a LXX e a Tradução de Symmachus, às vezes vertem a palavra hebraica para “veja” por euthus em vez de idou (“veja”). Euthus e idou são às vezes usadas também de maneira intercambiável pelos Sinóticos. (Compare Marcos 7:25 com Mateus 15:22 e Marcos 14:43 com Mateus 26:47 e Lucas 22:47.)
30 – Novo Comentário Bíblico Revisado, editado por D. Guthrie e J. A. Motyer, Grand Rapids, Michigan, 1971, pág. 845 em inglês.
31 – Brunec, ad loc.
32 – Os que defendem que a parousia ocorreu em 70 DC são obrigados a identificar este período de pisoteamento de Jerusalém até o fim dos tempos dos gentios com os cinco meses que os romanos sitiaram Jerusalém, ou com a destruição real da cidade e do templo.
Porém, parece estranho dizer que os romanos “pisotearam” Jerusalém durante o tempo em que estavam fora da cidade. Além disso, parece claro que Lucas diz que o cativeiro judaico em países estrangeiros prosseguiria paralelamente aos tempos em que os gentios pisotearam sobre Jerusalém, indicando assim que estes “tempos dos gentios” seriam um período de longa duração.
33 – O Dr. Basil F. C. Atkinson, por exemplo, diz no Novo Comentário da Bíblia (2º ed. em inglês, Londres 1954, página 800): “A ‘tribulação’ não termina com a destruição de Jerusalém. Na visão do escritor inclui a Era Cristã posterior.”
34 – É um erro concluir que a “abreviação” da tribulação significa necessariamente que ela teria curta duração. A palavra grega koloboo significa “deduzir, reduzir, amputar”, e assim por diante e não dá qualquer indicação sobre a duração do período até o momento em que este chega ao fim, apenas que ele seria mais longo se não fosse abreviado.
35 – Embora a liderança das Testemunhas de Jeová defenda desde 1973 que a vinda “nas nuvens do céu” mencionada em Mateus 24:30 seja ainda futura, alega que o “ajuntamento” dos eleitos mencionado logo no próximo versículo (v. 31) tem continuado desde 1919 pelo trabalho de pregação realizado pela organização! (Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos, 1975, págs. 328-329). Todavia, esta inversão da ordem dos eventos conforme apresentada por Jesus torna-se impossível com base no texto paralelo de Marcos o qual, devido à palavra “então” (tote), fixa definitivamente o ajuntamento do eleitos na época da vinda com as nuvens, não na época anterior a isto. (Marcos 13:27) O conceito da liderança das Testemunhas de Jeová de que seu trabalho de pregação desde 1919 é a “colheita” mencionada na parábola do trigo e do joio (Mat. 13:24-30, 36-43) cai por terra quando se percebe que a separação do “joio” do “trigo”, bem como a separação dos “peixes” excelentes dos imprestáveis na parábola da rede de arrasto (Mat. 13:47-52) tem ligação com o julgamento que ocorrerá na vinda futura de Cristo “nas nuvens” com todos os seus anjos. Na parábola da rede de arrasto, a pregação executada pelos professos seguidores de Cristo é ilustrada por uma rede lançada ao mar, que apanha peixes “de toda espécie.” O ponto é que a separação dos peixes excelentes dos imprestáveis não ocorre enquanto a rede ainda está apanhando peixes no mar (assim como a separação do trigo e do joio não ocorre enquanto eles estão crescendo, e sim no momento da colheita). Ademais, o ajuntamento dos bons peixes em vasos e o lançamento dos ruins para fora é executado pelos “anjos”, não por humanos (assim como é também o caso na parábola do trigo e do joio). Logicamente os cristãos não podem ter qualquer parte neste trabalho de separação, uma vez que são eles que estão sendo separados.
NT: Na época da escrita deste livro, a organização ensinava em todas as suas publicações que a pregação efetuada pelas Testemunhas de Jeová constituía essa obra de “separação” do ‘joio e trigo’, ou dos ‘peixes bons e imprestáveis’ ou ainda das ‘ovelhas e cabritos’. Mas este ensino foi mudado (discretamente) em 1995. A Sentinela de 15 de outubro de 1995, pág. 23, finalmente reconheceu que “o julgamento das ovelhas e dos cabritos é futuro” e que “Jesus realizará o julgamento”.
36 – Com base na ideia de que a parousia de Cristo começou em 1914, a liderança das Testemunhas de Jeová defende que quando Cristo (o “Senhor” na parábola) fez sua inspeção dos professos cristãos naquele momento encontrou apenas os membros ungidos da organização deles na condição de “fiéis e discretos”, dando aos membros “domésticos” o seu “alimento espiritual” “no tempo apropriado.” Assim, acredita-se que Jesus designou esses membros ungidos da organização “sobre todos os seus bens” em 1919. (Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos, 1975, págs. 349-358). Este conceito é usado para justificar a alegação de autoridade divina sobre todos os seus membros que a organização faz.
Desde 1973, porém, a organização tem minado sem querer a base teológica de sua própria autoridade. Até aquele ano defendia-se que a parábola (nos versículos 45-51) era uma extensão dos versículos 42-44 e relacionava-se ao mesmo evento, a saber, a vinda de Cristo “ao seu templo” em 1918. (Vindicação, Vol. 3, págs. 121, 122 em inglês). Daí, em 1973, eles adiaram a “vinda” mencionada nos versículos 42-44 à futura “grande tribulação”. (Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos, págs. 336, 337) Todavia, contextualmente, não há como separar a “vinda” dos versículos 42-44 dos versículos seguintes (45-51). Consequentemente, se a “vinda” dos versículos 42-44 for futura, a “vinda” do mestre nos versículos 45-51 também é futura, assim como também a designação do “escravo fiel e discreto sobre todos os seus bens”. Por isso, as publicações da organização desde 1973 indicam ocasionalmente que a promoção do “escravo” ainda é futura, e pode ter até mesmo uma aplicação individual. (O Reino de Deus – Nosso Iminente Governo Mundial, 1977, pág. 158 e seguintes.)
37 – Esta é a explicação padrão que se dá nas publicações modernas das Testemunhas de Jeová.
38 – Que Mateus 24:29, 30 contêm a resposta à pergunta dos discípulos sobre o sinal da vinda de Cristo é a conclusão de muitos comentaristas bíblicos. O Dr. J. C. Fenton, por exemplo, observa: “‘então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem’ é um acréscimo de Mateus, e responde à pergunta no v. 3, ‘qual será o sinal da tua vinda?’” – O Evangelho de São Mateus (em inglês – Penguin Books).
39 – Este modo de descrever a natureza como estando “abalada” à “vista” de forças divinas ou de conquistadores poderosos é também comum em literatura extra-bíblica do antigo Oriente. Os reis assírios, por exemplo, ostentavam que o mundo “tremia” durante seus ataques. Salmaneser III (858-824 A.C.) alegou que “à sua arremetida poderosa em batalha os confins do mundo se agitam, as montanhas tremem”, e Sargão II (721-705 A.C.) alegou que durante seu ataque “os céus e a terra tremeram, as montanhas e o mar se contorceram.” (Samuel E. Loewenstamm, “O Abalo da Natureza Durante a Teofania”, em Estudos Comparativos da Literatura Bíblica e Oriental Antiga, Neukirchen-Vluyn 1980, pág. 183, em inglês)
40 – A vinda de Cristo “sobre as nuvens” (ou “nas” ou “com as” nuvens, Lucas 21:27 e Revelação 1:7) não significa invisibilidade, como defende a liderança das Testemunhas de Jeová (Venha o Teu Reino, 1981, pág. 142; Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, 1988, pág. 155; Raciocínios à Base das Escrituras, 1989, página 435; Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 3, 1992, pág. 323), mas a presença de poder e glória divina. No Antigo Testamento além do “Filho do Homem” só o próprio Deus é retratado em Daniel 7:13 como vindo nas nuvens ou sobre elas. (Jer. 19:1; Sal. 104:3) (veja a consideração de Gustaf Dalman em As Palavras de Jesus. Edimburgo, Escócia, 1902, págs. 241-243, em inglês.)
41 – O apóstolo Pedro contrasta claramente “os céus e a terra que agora existem” com aqueles que existiam antes do Dilúvio e que tinham sido criados por Deus no segundo e terceiro “dias” criativos. (2 Ped. 3:5, 7; Gên. 1:8, 10) Os que datam a parousia em 70 D.C. concluem até que “os céus e a terra que agora existem” mencionados por Pedro referem-se à nação de Israel, às instituições seculares e espirituais que foram destruídas e dissolvidas em 70 D.C. (J. S. Russell, A Parousia, pág. 320, em inglês) mas Pedro indica claramente que “os céus e a terra que agora existem” substituíram os que existiam antes do dilúvio. É razoável perguntar: como é possível que aquele mundo antigo poderia ter sido substituído apenas pela nação de Israel, na Palestina? Parece evidente que o julgamento e a destruição descritos por Pedro serão universais em alcance, abrangendo toda a humanidade.
42 – A Sentinela de 15 de janeiro de 1984, págs. 3-7.
43 – Reimpressões de A Torre de Vigia de Sião, págs. 26, 253.
44 – O Dr. Peter Bourne, presidente da Global Water, Incorporated, ao revisar uma obra sobre as pestilências no passado, observou que a ameaça constante desses incontroláveis e frequentemente generalizados desastres geraram na época muito mais medo do que a ameaça de guerra nuclear hoje. Ele diz: “O livro faz-nos lembrar de algo que esquecemos com muita facilidade, ou seja, a terrível ameaça à qual a doença epidêmica constantemente expôs as pessoas ao longo de toda a história até há bem poucos anos. Pairando sobre todos, independentemente do nível social, econômico ou político, estava o sempre presente medo da morte súbita e irracional. Em nossa própria época, só a ameaça da guerra nuclear se aproxima remotamente do nível a que pode ter chegado aquele medo – Uma Folha ao Vento, Nº. 18, maio de 1984, pág. 8 em inglês (um documento publicado pelo Projeto Fome, P. O. Caixa Postal 789, São Francisco, Califórnia 94101, EUA).
45 – Sobre o terror causado por sinais cósmicos alarmantes veja também o Comentário ao Evangelho de Lucas, Norval Geldenhuys (12ª impressão em inglês, Grand Rapids, Michigan, EUA, 1979), págs. 537-540. Ao usar a palavra oikoumene, “a terra habitada, o mundo”, Lucas incluiu a terra inteira no julgamento que virá. Às vezes, como por exemplo, em Lucas 2:1, oikoumene era usado para se aplicar ao Império Romano “que, no linguajar exagerado geralmente usado em ref[erência] aos imperadores, equivalia ao mundo inteiro.” (Léxico Greco-Inglês do Novo Testamento de Bauer, pág. 561, em inglês) Alguns antigos eruditos, dando ênfase a Lucas 2:1 e Atos 11:28,29, às vezes argumentavam que oikoumene era usado para se referir somente à Palestina. Este conceito não é favorecido atualmente pela erudição moderna. Assim, agora se documenta que a “grande fome” mencionada em Atos 11:28, 29, ocorreu também em outras partes do Império Romano além da Palestina. (“A Fome Universal Sob Cláudio”, K. S. Gapp, Resenha Teológica de Harvard, Vol. 28 em inglês, 1935, págs. 258-265.) Similarmente, o censo mencionado em Lucas 2:1 não foi só para a Palestina, pois se sabe que censos semelhantes foram efetuados em muitas outras províncias na época de Augusto. (Veja a consideração em O Evangelho de Lucas, I. Howard Marshall, Grand Rapids, Michigan, 1978, págs. 98-104 em inglês.).